Os candidatos à presidência da Comissão Europeia reconheceram esta quarta-feira uma dose de culpa na ascensão do euroceticismo e do nacionalismo, coincidindo na necessidade de aproximar a União Europeia dos cidadãos para contrariar as forças extremistas.
“O nacionalismo e o egoísmo estão de regresso a este continente e o que temos de fazer nestas eleições é lutar contra aqueles que querem destruir a Europa”, declarou o alemão Manfred Weber, o "Spitzenkandidat" (candidato principal) do Partido Popular Europeu (PPE), insistindo que as pessoas não sentem a União Europeia (UE) como sua e que a sua missão será torná-la mais democrática.
As “forças que querem destruir a UE” foram mencionadas por Ska Keller, candidata dos Verdes europeus, que estimou que a principal forma de combater o nacionalismo que está a dividir o bloco europeu é não dar espaço a partidos extremistas, de modo a impedir que se tornem mais relevantes.
“As pessoas que votavam no meu partido e em outros que aqui estão hoje, estão a votar em partidos nacionalistas e, às vezes, até extremistas. É nossa culpa. Aparentemente nós não os convencemos e acreditaram nessas promessas, estando agora dececionados”, argumentou o socialista Frans Timmermans.
“Vejam o que o Brexit fez ao Reino Unido. Hoje o Reino Unido parece a 'Guerra dos Tronos’ em esteroides. Temos uma responsabilidade coletiva. Vamos oferecer-lhes propostas que os façam voltar para a UE e para todos os partidos que estão aqui, que têm propostas construtivas para o futuro. Esse é o único caminho”, afirmou ainda Timmermans.
Tal como o seu colega na Comissão Europeia – o holandês é o primeiro vice-presidente do executivo –, a dinamarquesa Margrethe Vestager, um dos sete candidatos dos Liberais, fez ‘mea culpa’, assumindo que os políticos precisam de mudar a forma como falam.
“Falamos muitas vezes como se estivéssemos a contar um segredo. Temos de discutir realmente os problemas e obrigar-nos a dizer a verdade, de modo a combater as ‘fake news’. A solução é dar algo que pensar às pessoas e convidá-las para discussões reais”, preconizou.
Já Nico Cué (Esquerda Unitária), o espanho-belga que foi o único a intervir no debate em francês, responsabilizou “as políticas de austeridade de uma violência sem precedentes contra os países do sul, contra os cidadãos”, pelo crescimento dos partidos radicais e alertou para a necessidade de escolher entre obedecer à lei do mercado ou ficar ao lado dos cidadãos.
A única voz que destoou na “harmonia” da discussão sobre este tema foi o checo Jan Zahradil, candidato dos Conservadores e Reformistas, grupo eurocético e antifederalista integrado, entre outros, pelo partido conservador eurocético polaco, Lei e Justiça (PiS).
“As pessoas comuns que não querem saber da política quotidiana estão cansadas da integração europeia. Sentem que a UE está a interferir no seu dia-a-dia, que está a ameaçar as suas tradições e costumes. Sou a favor da UE, mas quero uma Europa que faça menos e melhor, flexível e descentralizada. Não penso que mais Europa seja a resposta, como pensam o PPE e os socialistas, que estão a governar a Europa há mais de 25 anos”, realçou na sua intervenção no único debate entre os candidatos dos maiores grupos políticos europeus.
Num hemiciclo do Parlamento Europeu em Bruxelas transformado em estúdio de televisão, os seis "Spitzenkandidaten" (candidatos principais) debateram, num registo ‘morno’, alguns dos temas fortes da campanha para as eleições europeias, como emprego, segurança, populismo, alterações climáticas, papel da União Europeia na cena mundial e migrações.
Relativamente às migrações, todos, à exceção de Zahradil, concordaram que a UE precisa de uma solução a longo prazo, segundo Vestager “com a mesma urgência que são resgatados migrantes do mar Mediterrâneo”, com Weber e Timmermans a defenderem a existência de um Plano Marshall para África como uma das medidas fulcrais para “estancar” o fluxo de migrantes que chega à Europa.