A xenofobia está a crescer e os sinais são evidentes em diversos pontos do país, diz geógrafo e membro da direção do Centro de Estudos Geográficos do IGOT (Instituto de Geografia e Ordenamento do Território) da Universidade de Lisboa.
“Globalmente no país, acho que há sinais perigosos de xenofobia”, afirma no programa da Renascença Da Capa à Contracapa, emitido nesta terça-feira.
“Vamos ver algumas das evidências empíricas: aconteceu várias vezes, nos últimos meses, aparecerem mensagens de ódio, escritas nas paredes das universidades, do Conselho Português para os Refugiados, recorrentemente, e alguns outros discursos encobertos que aparecem, por exemplo, na internet quando olhamos para as páginas onde as pessoas vão escrevendo os seus comentários, que são preocupantes e em número crescente”, aponta.
“Portanto, eu acho que no contexto da sociedade portuguesa há sinais de uma certa radicalização”, conclui, José Macaísta Malheiros.
A diretora da Obra Católica das Migrações concorda e diz-se chocada com o que vê na internet.
“Se a minha experiência pessoal é de ver este cuidado em querer acolher e em querer tratar bem, depois chegamos à internet e vemos discursos assustadores”, admite.
Eugénia Quaresma considera, contudo, que essas declarações contrastam com o acolhimento que muitas comunidades prestam aos imigrantes, mesmo quando a chegada destes estrangeiros causa alguma agitação entre os residentes.
“Quando falamos em xenofobia, falamos do medo do estranho e, de facto, há pequenos alertas que nos chegam mesmo de algumas instituições da Igreja”, afirma.
Para aproximar as duas realidades, esta responsável defende um maior envolvimento de diversas entidades na reestruturação do acolhimento aos imigrantes. E dá o exemplo do que é necessário fazer no Alentejo, onde muitos estrangeiros trabalham na agricultura.
“É preciso trabalhar mais proximamente e, se calhar, de uma forma integrada com as autarquias, a administração central, o SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] ou a entidade que o substituir, as organizações da sociedade civil para, primeiro, ao nível da fiscalização e da componente mais policial, investigar e combater eventuais redes de tráfico e, depois, ao nível da qualidade de vida daqueles que vivem nestas áreas”, sustenta.
É preciso mais acesso aos CIT
Numa altura em que tanto se fala na reforma do Serviço de Estrangeiros, há um pedido que a Obra Católica das Migrações tem a fazer: maior rapidez na avaliação dos processos de autorização de residência.
“Uma das coisas que sentimos mais imediatamente é na resolução dos processos, na avaliação e no conceder aos migrantes a autorização de residência. Depois, há o outro lado que está agora debaixo de fogo que são os CIT – os centros de instalação temporária”, acrescenta.
“Gostaríamos de ter uma presença, para garantir a humanidade, nos centros de instalação temporária”, apela Eugénia Quaresma, confirmando que muitos advogados se queixam da falta de acesso a estes centros.
“A dificuldade de acesso é uma coisa muito sublinhada, sobretudo, pelos advogados” e “nesta reestruturação gostaríamos de poder falar sobre isso”, afirma na Renascença.
O programa Da Capa à Contracapa, da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, é emitido às terças-feiras, depois das 23h00 e tem edição de José Pedro Frazão. Pode também ouvir em podcast e aqui, no site da sua rádio.
“Gostaríamos de ter uma presença, para garantir a humanidade, nos centros de instalação temporária”, apela Eugénia Quaresma, confirmando que muitos advogados se queixam da falta de acesso a estes centros.
“A dificuldade de acesso é uma coisa muito sublinhada, sobretudo, pelos advogados” e “nesta reestruturação gostaríamos de poder falar sobre isso”, afirma na Renascença.
O programa Da Capa à Contracapa, da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, é emitido às terças-feiras, depois das 23h00 e tem edição de José Pedro Frazão. Pode também ouvir em podcast e aqui, no site da sua rádio.