O secretário-geral do PCP considerou hoje que a prioridade face ao conflito na Ucrânia é o diálogo, salientando que mesmo os apoiantes da concessão a este país do estatuto de candidato à União Europeia a relativizam, referindo-se ao primeiro-ministro.
Jerónimo de Sousa falava aos jornalistas após uma reunião no palacete de S. Bento com o primeiro-ministro, António Costa, que está a receber os partidos com representação parlamentar para debater o Conselho Europeu da próxima semana, em Bruxelas, que vai discutir as candidaturas à adesão à União Europeia da Ucrânia, República da Moldova e Geórgia.
"Hão de reparar que existe uma intenção, mas mesmo aqueles que defendem esse estatuto, relativizam-no, como tem acontecido, incluindo por parte do senhor primeiro-ministro na sua consideração de que "sim, estatuto associativo, mas em relação à questão da adesão logo se verá"", afirmou Jerónimo de Sousa.
Na terça-feira, por ocasião de uma deslocação a Haia, António Costa insistiu que aquilo de que a Ucrânia mais precisa agora é de respostas imediatas e práticas, e não de questões legais e jurídicas relacionadas com o processo de adesão ao bloco europeu, necessariamente moroso, o que pode criar frustração.
Acompanhado pelo antigo candidato presidencial e membro do Comité Central do PCP, João Ferreira, Jerónimo de Sousa sublinhou apenas que a prioridade para o PCP é "o diálogo".
"Mas de qualquer forma continuamos a considerar que fundamental era o diálogo, era o esforço procurando a paz como solução para o conflito, e digamos, evitar que o nosso povo e outros povos sofram as consequências económicas de uma guerra que exige para além do respeito pelas normas e conteúdos internacionais se procure essa paz, esse diálogo seja estabelecido", vincou.
Inicialmente, Jerónimo de Sousa disse que falou com o primeiro-ministro sobre o estado atual do Serviço Nacional de Saúde, posicionando-se contra a "privatização da saúde" e alertando para as dificuldades dos profissionais deste setor.
"Consideramos que a vida veio demonstrar a razão do PCP em relação ao seu voto contra no orçamento [de Estado para 2022] tendo em conta que hoje temos uma maioria absoluta do PS e, no entanto, os problemas tendem para o agravamento", sublinhou.
O PCP expressou ainda preocupações relacionadas com os salários tendo em conta a inflação e o aumento do custo de vida.
"Questões como a subida das taxas de juro vão ter consequências e impactos junto de muitas famílias, para além de uma política de sanções em que está por fazer a avaliação e análise das consequências económicas e sociais no nosso país como noutros países e em relação a outros povos", acrescentou.
A Comissão Europeia recomendou hoje ao Conselho que seja concedido à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à União Europeia (UE), emitindo parecer semelhante para a Moldova, enquanto para a Geórgia entende serem necessários mais passos.
Menos de uma semana após o início da invasão pela Rússia, a 24 de fevereiro, a Ucrânia apresentou formalmente a sua candidatura à adesão, e, no início de abril, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, entregou em mão, em Kiev, ao Presidente Volodymyr Zelensky o questionário que as autoridades ucranianas entretanto preencheram e remeteram a Bruxelas, aguardando agora ansiosamente pelo "veredicto" europeu.
Na terça-feira, em Haia, o primeiro-ministro defendeu que "muita coisa que pode ser feita sem dividir a UE, e que não seja um estatuto legal [de país candidato], cujos efeitos práticos só serão vistos muito mais tarde", e uma das possibilidades que identificou prende-se precisamente com o Acordo de Associação entre o bloco comunitário e a Ucrânia, que pode ser melhorado para permitir, por exemplo, a liberdade de circulação, assim como levantar as barreiras à circulação de bens ucranianos no mercado interno da UE.
"Em vez de nos dividirmos em torno de questões jurídicas e de questões legais, é melhor reforçar a nossa unidade em respostas concretas para aquilo que os ucranianos e a Ucrânia precisa hoje, e é aí que nos devemos concentrar", defendeu.