Governo ouve partidos sobre combate à corrupção, mas para já não avança com medidas
22-04-2024 - 17:28
 • Miguel Marques Ribeiro com Renascença

“Estamos na altura de ouvir. Haverá altura de decidir”, afirma Rita Júdice, no final das audiências com os partidos na Assembleia da República.

Primeiro ouvir, depois decidir. Essa é a lógica seguida pelo Ministério da Justiça, no que à corrupção diz respeito. O Governo realizou esta segunda-feira, na Assembleia da República, a segunda etapa da ronda de audiências aos partidos sobre as medidas de combate à corrupção que pretende adotar no prazo de 60 dias. Rita Júdice ouviu representantes do Livre, PCP, BE e IL, depois de na sexta-feira ter realizado audiências com o PAN, o o PSD, o PS e o Chega.

Para já, a ministra não se pronuncia sobre eventuais políticas concretas a implementar. “Estamos na altura de ouvir. Haverá altura de decidir”, assegurou Rita Júdice, em declarações aos jornalistas no final das audiências.

O plano do governo passa assim por continuar a recolher opiniões nesta matéria, antes de avançar com propostas concretas. “Esta primeira ronda terminou agora. Vamos recolher contributos escritos de algumas entidades, vamos reunir com outras e depois voltaremos a encontrar-nos e a conversar com os partidos”, declarou a ministra.

Para Rita Júdice, nesta fase o Governo mantém-se aberto a todas as possibilidades. “A linha vermelha que nos acompanha a todos é o cumprimento da Constituição”, garante a ministra.

Partidos pedem mais transparência para combater burocracia, 'portas giratórias' e off-shores

Os representantes dos partidos ouvidos esta segunda-feira foram-se pronunciando sobre os encontros mantidos com a equipa do ministério da Justiça, à medida que as audiências iam terminando no Parlamento.

Da parte da Iniciativa Liberal, a líder da bancada parlamentar Mariana Leitão defendeu que a principal prioridade deve ser a desburocratização e simplificação de procedimentos, procurando perceber se há organismos com sobreposição de competências em matéria de combate à corrupção.

"Regulamentos e procedimentos desnecessários, morosos e complexos acabam por ser terreno fértil para a corrupção”, afirmou.

O Bloco de Esquerda, por seu lado, defendeu que a criminalização das transferências de capitais ‘de e para’ os chamados paraísos fiscais.

“Os offshores são centro de criminalidade financeira. Portugal deve proibir a transferência de capitais de e para offshores”, defendeu o líder parlamentar Fabian Figueiredo.

o PCP, pela voz do deputado António Filipe, defendeu um travão às "portas giratórias" entre o exercício de cargos públicos e empresariais privados na mesma área antes tutelada pelo agente político. A lei "deve sancionar não apenas o titular do cargo público mas também a empresa que o contratou", defendeu. Os comunistas manifestaram-se ainda contra a regulamentação da atividade de "lobbying".

Finalmente, o Livre defendeu uma aposta em medidas preventivas. "É na prevenção da corrupção que devemos pôr a tónica”, defendeu o deputado Paulo Muacho.

Entre as medidas principais propostas pelos ecologistas europeus está a possibilidade dos pareceres da Comissão de Acesso a Documentos Administrativos passarem a ser vinculativos e um reforço da transparência em matéria de conhecimento da pegada legislativa do Governo.