No majestoso salão de mármore, do Palácio Belveder, em Viena, onde em 1955 foi assinado o tratado que devolveu a independência à Áustria, foram conhecidos esta terça-feira os vencedores da décima edição do Prémio da União Europeia para a Literatura. Havia 36 candidatos.
A escritora romena Ioana Pârvulescu, com o conto intitulado na tradução para inglês “A Voice”, foi a grande vencedora da noite.
Quando subiu ao palco dedicou o prémio a Monica Lovinesco, antiga jornalista da Radio Free Europe, a quem dedica o conto. Embora a dona da voz que encorajou a resistência intelectual na Roménia já tenha morrido, a autora referiu na cerimónia que assim “a vida de sacrifício que teve valeu a pena”.
Ioana Pârvulescu empenhou-se em dar a conhecer a história desta jornalista através de um conto que, na opinião do júri do prémio, tem como tema central a liberdade na Europa.
Segundo a escritora romena, a temática está no centro da história e mantém-se hoje, como então, actual. Pârvulescu referiu no seu discurso que “os livros não podem mudar a História, as vozes da rádio também não, mas as pessoas podem mudar a História”.
Outra das vencedoras da noite foi Lidija Dimkovska, uma autora da antiga república jugoslava da Macedónia que ganhou o prémio especial atribuído este ano no âmbito da iniciativa do Ano Europeu do Património.
O conto “When I Left Karl Liebknecht”, que na opinião do júri “apresenta o património europeu através das pessoas que durante séculos lutaram pelos seus direitos”, reúne um conjunto de histórias de personagens fictícias que em comum têm o facto de ter vivido em ruas com o nome do político alemão que criou a liga Spartacus, o movimento de esquerda opositor à república de Weimar. Muito satisfeita com o prémio, a autora macedónia explicou que tal como as suas personagens, também ela viveu numa rua com aquele nome e que também imigrou.
A jornalista Maria João Costa, editora de Cultura da Renascença, fez parte do júri, sendo o único membro de nacionalidade portuguesa.
Mais duas distinções
Na cerimónia, que pela primeira vez aconteceu fora de Bruxelas, foram também entregues o Prémio do Público e o Prémio atribuído pelo Parlamento Europeu.
A votação através da internet escolheu o conto da autora sérvia Jelena Lengold, traduzido para inglês com o título “Jasmine and death”. Nas palavras da premiada é uma história que “fala do medo” que hoje se vive na Europa ao relatar o receio de uma mulher que faz uma viagem de avião e que teme sofrer um ataque terrorista.
Os parlamentares da União Europeia resolveram atribuiu o prémio em situação de igualdade a dois escritores do Luxemburgo.
Jean Back venceu o prémio com o conto intitulado “European Clouds”. O escritor, que já tinha vencido o prémio em 2010, criticou o facto de hoje em dia a “Europa ter as fronteiras mais abertas ao comércio, do que às pessoas”.
Já Gast Groeber escreveu “Currant Weather warning: predominantly heavy fog”, um conto que fala sobre uma criança refugiada e o sonho de viajar para a Europa. Segundo o autor o conto “relaciona-se com o que passa nas televisões e nas rádios” sobre “os refugiados que chegam diariamente”.
A cerimónia em que estiveram presentes o comissário europeu da Educação, Cultura, Juventude e Desporto, Tibor Navracsics, e o ministro austríaco da Cultura ficou marcada pelas palavras críticas do escritor David Kelhman, que abriu a sessão lendo o texto sobre a importância dos escritores numa Europa onde o populismo e a extrema direita têm ganho peso.
O autor que nasceu na Alemanha, mas que foi viver ainda criança para a Áustria, evocou no seu texto um encontro com o escritor húngaro Imre Kertész, um sobrevivente do Holocausto que venceu o Prémio Nobel em 2002, para lembrar a importância do testemunho de pessoas com ele que souberam o que foi estar do lado de dentro dos campos de concentração.