O mundo não vai conseguir cumprir as metas de controlo do aquecimento global sem uma "descarbonização radical" e "mais ações em todas as frentes", alerta a Organização das Nações Unidas (ONU) esta sexta-feira, num relatório divulgado antes de cruciais negociações internacionais para combater a crise climática.
O relatório Global Stocktake, o mais recente aviso da ONU sobre os perigos que o planeta enfrenta a nível ambiental, será a base da COP28, que vai decorrer no Dubai no final do ano, no seguimento de terríveis incêndios florestais, temperaturas a subir a pique e outros fenómenos climáticos extremos registados em todo o mundo nos últimos meses.
Compilado ao longo dos últimos dois anos, na sequência dos objetivos traçados no Acordo do Clima de Paris em 2015, o relatório compila e analisa milhares de informações e dados submetidos por especialistas, Governos e ativistas, e deixa vários avisos, incluindo que o combate às alterações climáticas exige uma rápida mudança na forma como o mundo funciona, viaja, come e utiliza energia.
"O Acordo de Paris conduziu a ações climáticas quase universais, definindo objetivos e enviando um sinal ao mundo sobre a urgência de responder à crise climática", é apontado no relatório. "Mas apesar de haver ações em curso, é preciso fazer muito mais em todas as frentes."
Em 2015, quase 200 países chegaram a acordo quanto à necessidade de limitar o aquecimento global a não mais do que 2 ºC acima dos níveis pré-industriais, bem como trabalhar para manter a subida da temperatura limitada a 1.5 ºC.
Apesar de cada país ser responsável por tomar as suas decisões quanto à crise climática, todos concordaram ser avaliados num relatório de progresso este ano, para avaliar que outros passos são necessários para cumprir as metas definidas.
No relatório, a ONU diz que os compromissos nacionais existentes para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa são "insuficientes" para limitar o aquecimento global a 1.5 ºC como definido no Acordo de Paris.
Para cumprir essa meta, a ONU invoca uma "descarbonização radical", sublinhando que é necessário reduzir as emissões de CO2 em mais de 20 gigatoneladas ainda nesta década, e atingir a neutralidade carbónica até 2050.
Para além disso, destaca a importância de se "eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis inabaláveis", uma necessidade que a ONU não tinha destacado explicitamente até agora em sucessivos encontros e reuniões sobre o clima. Recentemente, o uso da expressão "eliminar" tinha gerado controvérsia nas negociações anuais da ONU sobre o clima.
A janela de oportunidade para agir está a "fechar-se rapidamente", alerta ainda a ONU no mesmo relatório de 47 páginas, que apesar de tudo não identifica em detalhe que países estão a falhar no combate às alterações climáticas, nem contém recomendações específicas a regiões ou nações em particular.