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O PCP acusa a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, de "profundo desprezo pelas dificuldades das famílias", pedindo que o Governo não se fique pelos "diagnósticos e constatações" e mitigue o efeito do aumento das taxas de juro.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, reagiu ao pedido de Christine Lagarde, na quarta-feira em Sintra, para que os governos europeus não adotem novas medidas de apoios financeiros e de aumentos salariais para que a inflação seja mais rapidamente reduzida e não seja estimulada.
Para Paula Santos, essas declarações revelam "um profundo desprezo pelas dificuldades que as famílias sentem" e "pela degradação das condições de vida que afetam os trabalhadores e o povo".
"A referência que é feita aos salários, aos apoios que foram atribuídos para combater o aumento do custo de vida (...) revelam uma opção política de ataque aos trabalhadores, ao povo e revelam uma opção para empurrar os trabalhadores e o povo para o empobrecimento", defendeu.
A líder parlamentar do PCP criticou o facto de o BCE insistir no aumento das taxas de juro, salientando que essa decisão está a "ser insuportável para as famílias" com crédito à habitação, e só favorece os grupos económicos.
"Está à vista de todos que a inflação resulta do aumento das margens de lucro dos grupos económicos, em particular de alguns setores, na banca, no setor energético, na grande distribuição", disse.
Nesse contexto, Paula Santos insistiu que o aumento das taxas de juro deve ser pago através dos lucros da banca, sustentando que "não podem ser as famílias a suportar" esse aumento, mas antes "aqueles que têm de facto estado a beneficiar com a situação".
Numa alusão ao Governo, Paula Santos considerou que "não se pode ficar somente nos lamentos das consequências do aumento das taxas de juro, refugiando-se numa decisão técnica que, na verdade, o que implica e pretende é não ter de tomar qualquer iniciativa para enfrentar esta situação".
Questionada sobre as declarações do primeiro-ministro - que considerou hoje que "não ter havido compreensão suficiente" do BCE sobre a natureza do ciclo inflacionista -, Paula Santos respondeu que "não basta fazer um diagnóstico e uma constatação, é preciso mais".
"Não se pode continuar a permitir e a ser cúmplice desta situação, que é o que está a acontecer, quer por parte do Governo, quer do PSD, da IL, do Chega, que recusam que sejam os lucros da banca a suportar o aumento das taxas de juro", vincou.
Nestas declarações aos jornalistas, Paula Santos anunciou ainda que o debate potestativo (obrigatório) que o PCP tinha agendado para 07 de julho será sobre um diploma que visa baixar os impostos sobre as famílias e aumentar a tributação dos grupos económicos.
O projeto de lei em questão, apresentado na semana passada no parlamento, prevê a redução do IRS ou do IVA da eletricidade, a criação de uma nova taxa sobre transações para paraísos fiscais e o fim de isenções fiscais previstas em sede de IRC.