Uma economia mais amiga das pessoas? "Há cinco anos diria que era uma utopia"
11-02-2020 - 16:14
 • Ângela Roque , Sofia Freitas Moreira (fotos)

Nuno Moreira da Cruz, professor universitário, e Marta Figueiredo, uma jovem gestora que vai participar no encontro de Assis, foram os convidados desta semana no espaço de colaboração Renascença/ACEGE, dedicado à iniciativa "A Economia de Francisco" que o Papa convocou.

Católica e “apaixonada pela área social”, Marta Figueiredo começa por dizer que a alegra muito “ver uma Igreja aberta, a dialogar”, e que a “visão integrada” do Papa também serve para este setor da economia. Atual responsável pelo departamento de sustentabilidade e desenvolvimento com impacto na Girl MOVE Academy, Marta já foi diretora do ‘Cozinha com Alma’, um projeto de take-away social aberto ao público. Recebe, por isso, de braços abertos o desafio do Papa para que se encontre um novo modelo económico.

“O Papa está a querer o foco nas pessoas e nas suas necessidades”, através de uma economia “mais sustentável”, sublinha, considerando que o maior desafio é feito aos jovens. “Está a lançar-nos um apelo muito claro para questionarmos a fundo o sentido e o propósito da nossa vida”.

Mas, serão utópicos os desafios do Papa para se encontrar uma “economia com propósito” e “mais amiga do homem”? Nuno Moreira da Cruz, diretor do Center for Responsible Business and Leadership na Católica Lisbon School, acha que não.

“Se me fizesse essa pergunta há cinco anos era levado a responder que sim, que era uma utopia, mas não tenho nenhuma dúvida de que as coisas estão a mudar muito no mundo corporativo, porque os cidadãos e os consumidores também estão a mudar”, explica o professor de “International Business”, que também dirige as disciplinas de "Corporate Social Responsibility" e "Globalization". E acrescenta: “São sobretudo estas novas gerações, de que a Marta falava, que vão fazer a diferença neste novo mundo.”

Ligado muitos anos ao mundo empresarial, e tendo trabalhado em Bruxelas, Londres e Madrid, este responsável considera que “sem as empresas não se consegue nada, têm é de ser empresas viradas para o bem e serem capazes de entregar à sociedade aquilo que ela precisa”. E se que o que mais importou, durante muitos anos, foi “o lucro, e satisfazer o acionista”, hoje em dia, diz, “as empresas que não criem valor partilhado, para elas e para a sociedade, eu acredito que não vão poder sobreviver”.

Tanto Marta Figueiredo como Nuno Moreira da Cruz têm as maiores expectativas em relação ao encontro de Março, em Assis. Marta, que vai participar, diz que vai ser “uma oportunidade muito grande para traçar um horizonte a longo prazo”, e que para além de ser importante as empresas “fazerem este caminho de abertura a uma economia com propósito, também esta área social, e também a academia, precisam de criar estas pontes e projetar uma economia como a que Francisco nos propõe”.

Para o professor da Católica “aquilo que vai definitivamente cimentar todo este novo caminho são estas novas gerações”, que na próxima década vão estar em cargos de decisão. E sublinha: “o que o Papa Francisco está a fazer, com este tipo de encontros e de desafios, é muito preparar esta nova geração para ser capaz de fazer essa mudança”.

O novo espaço de colaboração da Renascença com a Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) sobre o encontro “A Economia de Francisco” é emitido todas as terças-feiras, depois das 13h00. Até 26 de março vamos analisar as propostas da Igreja e do Papa Francisco com a ajuda de diversos protagonistas.