Numa decisão histórica, os Estados Unidos abstiveram-se, em pleno Conselho de Segurança das Nações Unidas, na votação de uma resolução que exigia o fim da construção de colonatos judeus nos territórios ocupados na Cisjordânia.
O documento, apresentado por Nova Zelândia, Malásia, Venezuela e Senegal, um dia depois do Egipto ter retirado a sua proposta, recebeu 14 votos a favor e a abstenção norte-americana, a que se seguiu uma salva de palmas.
Este resultado já levou a uma guerra de palavras entre Israel e os Estados Unidos. O embaixador israelita junto das Nações Unidas criticou a posição norte-americana e disse mesmo que com a nova administração de Donald Trump e o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, as relações entre a organização e Israel vão sair fortalecidas. Entretanto, um ministro israelita considerou que "os Estados Unidos abandonaram Israel".
Já Samantha Power, a representante diplomática dos estados Unidos, respondeu afirmando que a posição foi a mesma de sempre, lembrando que não vetou, apenas se absteve.
Por sua vez, os palestinianos já reagiram considerando que esta decisão do Conselho de Segurança “é um dia de vitória”.
A visão de uma especialista
Comentando esta decisão norte-americana, Lívia Franco, professora na Universidade Católica e especialista em política internacional, lembra que “pela primeira vez, os Estados Unidos abstêm-se numa resolução que condena a política de Israel. Desse ponto de vista, é uma novidade em relação àquilo que é a prática histórica e a prática recorrente”.
Já “no que diz respeito à reacção do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e nomeadamente na crítica que faz à administração Obama, direi que depende da forma como se olha para as diligências da representante dos Estados Unidos no conselho de segurança, a embaixadora Samantha Power. Ela é claramente favorável à solução dos dois estados (Israel e Palestina) e é muito crítica da política da concessão dos novos colonatos”.
A possibilidade de a Administração Trump recusar esta decisão da Administração Obama, a especialista de política internacional recorda que “nas instâncias internacionais nunca é muito bem visto, alterações radicais de posição”.
“Se a representação dos Estados Unidos junto do conselho de segurança das Nações Unidas acabou de formalizar uma posição, que é uma posição de abstenção em relação à condenação das políticas de Israel, é estranho que agora a nova administração vá fazer uma inflexão nessa posição, em relação a esta política mais crítica da administração Obama”.
No entanto, “as indicações que temos de Trump, e da comunicação que faz através do Twitter, é que parece que vai haver essa inflexão”.
As to the U.N., things will be different after Jan. 20th.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 23, 2016
Como se vê, nos próprios Estados Unidos a decisão da administração Obama não é consensual. O Presidente eleito, Donald Trump, já reagiu e prometeu mudanças quando tomar posse a 20 de Janeiro de 2017. "As coisas serão diferentes", escreveu no Twitter. Já o republicano Paul Ryan considerou que a votação norte-americana é "vergonhosa" e "um golpe na paz" da região.