A Organização das Nações Unidas (ONU) apela à libertação imediata de duas mulheres detidas por terem criticado o regime da Arábia Saudita em mensagens publicadas na rede social Twitter.
Num relatório datado de 19 de junho e consultado pela agência AFP, o grupo de trabalho da ONU sobre detenção arbitrária diz ter recolhido provas credíveis de que Salma al-Chehab e Nurah al-Qahtani, detidas em 2022 e condenadas, respetivamente, a 34 e 45 anos de prisão, foram sujeitas a "tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes".
Segundo relatos de grupos de defesa dos direitos humanos como o ALQST - Democracy for the Arab World Now e o MENA Rights, as detidas foram sujeitas a "ameaças, insultos, abusos e métodos inapropriados durante o interrogatório".
Em resposta ao grupo de trabalho, a Arábia Saudita -- que exerce repressão sobre dissidentes políticos e ativistas, nomeadamente feministas -- rejeita as acusações, considerando-as "infundadas".
Alegando ausência de provas, o regime, chefiado pelo príncipe herdeiro Muhammad bin Salman, nega todos os maus-tratos relatados.
O painel de peritos independentes considera "arbitrária" a detenção das duas mulheres e que estas têm direito a "uma indemnização e outras reparações" pelo regime saudita.
Doutoranda em Inglaterra, Salma al-Chehab, mãe de duas crianças, foi detida em janeiro de 2021, quando se encontrava de férias na Arábia Saudita, e contou ter sido colocada em isolamento durante 285 dias antes de ser julgada por ter feito publicações no Twitter em que defendia os direitos das mulheres.
Em agosto de 2022, foi condenada a 34 anos de prisão e a uma proibição de sair da Arábia Saudita durante o mesmo período após o cumprimento a pena.
Nurah al-Qahtani foi condenada no ano passado por ter "desafiado", no Twitter, o rei Salman e o seu filho, o príncipe herdeiro.
Segundo documentos judiciais consultados na altura pela AFP, Nurah al-Qahtani estaria por trás de uma conta anónima em que figuravam mensagens sobre manifestações anti-Governo, proibidas pelo regime.