O consumo mundial de calçado registou quebras na ordem dos 22,5%, segundo as previsões, que apontam para um valor ainda maior dentro do mercado europeu.
“As previsões que tínhamos no início do ano, de que 2020 seria um ano de afirmação do calçado português nos mercados internacionais, efetivamente não vai ocorrer”, afirma Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa de Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).
“Temos neste momento a lamentar uma queda nas exportações muito próxima dos 20% no primeiro semestre deste ano”, acrescenta em declarações à Renascença.
A pandemia pôs um travão nas expetativas de um setor que estava em franco crescimento, duplicando as exportações para fora da Europa e integrando a lista dos 20 maiores produtores mundiais.
China, Estados Unidos ou Japão eram os mercados onde Portugal queria reforçar a sua presença. “Estávamos a fazer um esforço muito significativo para aprofundar a presença do calçado português em mercados extracomunitários. As exportações de calçado português para fora da Europa duplicaram na última década e esta situação atípica que vivemos, de facto, condicionou a nossa estratégia”.
“É muito mais difícil hoje podermos abordar mercados como os EUA, o Japão ou a China, onde Portugal estava a registar crescimentos muito significativos das suas exportações. Temos de encontrar mercados alternativos e também estratégias de aprofundamento e de abordagem a esses mercados que sejam mais criativas, mais inovadoras, que permitam que o calçado português não perca esta dinâmica de crescimento e de afirmação internacional”, acrescenta o representante do setor.
Entre abril e maio, várias empresas recorreram ao lay-off, algumas fecharam, mas os meses de julho e agosto já foram de forte atividade industrial. Ainda assim, diz Paulo Gonçalves, ninguém sabe como vai ser o futuro e as expetativas não são positivas.
Recuperar terreno
Depois dos estragos causados pela pandemia, é tempo de “recuperar algum terreno nos próximos meses”.
“Sabemos que as dificuldades são variadas, porque o comércio, numa perspetiva mais abrangente também está condicionado e, portanto, estaremos sempre dependentes da evolução da situação internacional, para que o setor possa regressar o mais rapidamente possível à normalidade”, destaca Paulo Gonçalves.
As vendas online são uma das apostas a valorizar, mas o porta-voz da APICCAPS diz que o comércio eletrónico ainda tem pouco peso num mercado que movimenta milhares de milhões de euros.
Para já, e no próximo fim de semana, o calçado português volta a mostrar-se numa feira internacional – a Gallery Shoes, que começa no domingo em Dusseldorf (Alemanha) e é vista como uma oportunidade para recuperar alguns dos negócios perdidos.
A esta feira vão apenas seis empresas portuguesas, menos de metade das que participaram no ano passado.
Antes da pandemia, o calçado português participava em cerca de 50 feiras internacionais, montras essenciais para um setor que vive da exportação.