Durante a campanha eleitoral em curso nenhum grupo de políticos foi a Portalegre. Como revela uma reportagem-vídeo da Renascença, realizada por Inês Rocha e Pedro Filipe Silva, aquela cidade capital de distrito é a única do país que não foi visitada por qualquer político em campanha.
O motivo é simples: Portalegre tem vindo a perder população e desde 2005 apenas elege dois deputados. Trata-se de um caso extremo de uma situação de abandono que afeta dois terços do território continental: as pessoas emigram do interior para o litoral, sobrepovoado.
Entra-se assim num ciclo vicioso. Os políticos desinteressam-se de regiões onde há poucos votos e dessa maneira a desertificação do interior não cessa de se acentuar. Sobretudo partem os jovens depois dos 18 anos, que não encontram localmente empregos nem oportunidades de valorização académica. O que não impede os políticos de fazerem belos discursos sobre o combate a essa desertificação e de tomarem algumas medidas de escasso alcance prático.
Há muito que sou cético sobre as possibilidades de travar e ainda mais de reverter a desertificação do interior. Mas acreditei que as cidades do interior poderiam escapar a esse flagelo, embora não as aldeias nem as pequenas povoações urbanas. Portalegre desmente essa esperança, infelizmente.
Para que o abandono do interior não se torne total, talvez fosse de repensar o sistema eleitoral – deixando ele de depender exclusivamente do número de eleitores. Só que rever o regime eleitoral é algo que muita gente propõe há décadas, mas não interessa ao poder das direções partidárias. Então, ao menos, poupem-nos a declarações hipócritas sobre revitalizar o interior.