O ministro do Planeamento e das Infraestruturas disse este domingo que o advogado Diogo Lacerda Machado, nomeado para administrador da TAP, "já deu provas de saber negociar vários dossiês complexos, mas sobretudo saber interpretar bem os interesses públicos".
Pedro Marques respondia assim às acusações do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que, em Viseu, no sábado à noite, afirmou ser "uma pouca vergonha" o Governo nomear para a administração da TAP Diogo Lacerda Machado, que foi "o mesmo homem que andou a negociar a reversão" da privatização da transportadora.
Em declarações à agência Lusa, o ministro Pedro Marques afirmou que "pouco vergonha é passos Coelho nunca ter explicado aos portugueses porque é que privatizou a TAP pela calada da noite e já com o seu Governo demitido".
O governante afirmou que o Governo PSD/CDS-PP, liderado por Pedro Passos Coelho, entregou a TAP "a privados, mas ficando o Estado com os riscos financeiros da situação futura" da empresa.
"Essa opção, essa pouca vergonha, obrigou-nos a uma negociação muito dura, muito difícil e muito longa, com os accionistas privados, que concluímos com sucesso, recuperando para o Estado a posição de maior accionista da TAP, e dando mais futuro à empresa que, aliás, teve um último ano e meio bom", disse o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, recordando que Lacerda Machado acompanhou o Governo nessas negociações, "e que acompanhará agora o novo presidente do Conselho de administração, Miguel Frasquilho".
O nome de Miguel Frasquilho para presidente do Conselho de Administração da TAP, foi avançado no sábado pelo semanário Expresso, que adiantou ainda os do advogado Lacerda Machado e da líder da Fundação Serralves, Ana Pinho, para vogais.
Pedro Marques confirmou à Lusa estes três nomes para o Conselho de Administração da TAP, e disse que até quarta-feira serão conhecidos os outros três nomes que o Estado tem de indicar.
O semanário refere também que, do lado dos privados, entra um representante dos chineses da HNA, que participa no consórcio Atlantic Gateway através da brasileira Azul.
O Expresso adianta ainda que a assembleia-geral (AG) extraordinária está marcada para 30 de Junho, às 16h00.
Costa não comenta
BE quer acabar com velhos hábitos
A líder do BE exigiu ao Governo que acabe com "velhos hábitos" na nomeação de administradores para empresas públicas e criticou as declarações de Passos Coelho sobre o assunto, afirmando que este agiu da mesma forma.
Catarina Martins reagia assim à nomeação do advogado Diogo Lacerda Machado, amigo do primeiro-ministro, António Costa, para vogal da TAP.
No discurso de apresentação dos candidatos do BE à Câmara do Seixal, Catarina Martins começou por defender que este "é o momento de mudar a forma como PSD e PS têm agido, quando olham por exemplo, para as empresas públicas, para as empresas participadas pelo Estado".
"Ouvi Pedro Passos Coelho muito chocado com a forma como foram feitas as indicações do Governo para a administração da TAP. Foram feitas de uma forma muito parecida com as que Passos Coelho fez sempre, enquanto estava no Governo", acusou.
A líder do BE foi peremptória: "precisamos de acabar com os velhos hábitos que nos dão pouca segurança sobre a qualidade da nossa democracia".
Na opinião de Catarina Martins, "estes velhos hábitos condizem muito mal com o novo ciclo político" do país "e com a expectativa de quem quer que a política tenha uma nova credibilidade".
"Está no momento de, no parlamento também, podermos conversar melhor sobre estas matérias porque a credibilidade é algo que se conquista a cada dia, com decisões transparentes, com decisões que cada um e cada uma possa compreender e possa ter a certeza que são feitas em nome do interesse público", exigiu.
De acordo com a coordenadora do BE, há "uma enorme expectativa - e legítima - de quem votou por uma mudança política no país".
"Uma expectativa de que haja uma nova forma também de fazer política. E essa é muito importante porque credibiliza o nosso percurso a cada dia", defendeu.
Catarina Martins aproveitou o discurso desta tarde para antecipar o debate que segunda-feira o BE leva ao parlamento sobre controlo público da atividade de gestão técnica do sistema eléctrico nacional.
"Amanhã mesmo, no parlamento, vamos ter a oportunidade de ver como é que se posiciona cada força política. Não basta dizer que achamos muito mal que a energia esteja assim", desafiou.
De acordo com a líder bloquista, o que "vai estar em discussão no parlamento é se deve ou não Portugal controlar o seu sistema eléctrico nacional como fazem todos os outros países e se deve ou não acabar com os contratos das rendas excessivas que fazem a nossa energia a mais cara da Europa".
"Esta semana, se houver vontade política, podemos começar a acertar as contas e não deixar mais que os privados que ficaram com as empresas da energia no nosso país tenham a faca e o queijo na mão para nos levar mais na conta da luz do que se leva em qualquer outro país da Europa", sublinhou
Admitindo que este é um "pequeno passo", Catarina Martins quer ver se será possível fazê-lo.
"Temos visto como tantos partidos fazem-se, tantas vezes, de chocados e depois, quando chega a hora de votar, vale sempre mais a força da EDP", acusou.
A coordenadora bloquista antecipou que, quando esta questão mudar, "muda a conta da luz para as pessoas e para as empresas".