Coronavírus. Companhias aéreas europeias pedem ajuda e deixam alerta
17-03-2020 - 19:14
 • Ana Carrilho

É preciso encontrar uma solução rápida para os cancelamentos de viagens e encerramentos de fronteiras por causa da Covid-19. A situação “pode levar à insolvência de milhares de empresas”, avisa associação.

As duas associações de companhias aéreas da Europa enviaram uma carta aberta aos ministros dos Transportes da União Europeia, que se reúnem na quarta-feira.

Em quatro pontos, a Airlines4Europe e a ERA – Associação das Companhias Aéreas Regionais Europeias explicam aos ministros que a situação no setor é muito grave e que as companhias aéreas europeias precisam de apoio, não apenas financeiro, mas também isenção de taxas e alteração nos mecanismos de reembolso aos passageiros.

De outra forma, muitas poderão não sobreviver à crise da Covid-19, uma “situação excecional”, e “uma crise sem precedentes que exige uma resposta sem precedentes”.

“Caros ministros dos Transportes, a Covid-19 terá um forte impacto na economia europeia, além de afetar a saúde financeira das companhias aéreas”. Assim começa a carta aberta enviada pelas duas associações ao Conselho de Ministros dos Transportes, agendado para quarta-feira.

As associações defendem a adoção de um “pacote alargado de medidas porque esta crise sem precedentes, exige uma resposta sem precedentes”.

Para as associações de companhias aéreas, as decisões unilaterais de vários Estados-membros de proibirem os voos põem em causa o funcionamento do mercado único europeu.

“Qualquer restrição, especialmente no Espaço Schengen, deve basear-se numa avaliação cuidadosa dos riscos e ser proporcional ao risco de saúde pública”. É por isso que as companhias defendem uma ação coordenada, inclusive com países terceiros, por exemplo, para garantir o repatriamento de passageiros de forma ordenada e organizada.

O documento refere que as companhias aéreas de carga estão a fazer o possível por manter as cadeias de abastecimento, inclusive para países em isolamento total ou parcial, como a Itália, França ou Espanha.

“Mas as companhias aéreas estão a deparar-se com interpretações diversas das diretivas por parte dos países, ao nível individual”. Pedem ainda que sejam dadas orientações a nível europeu para isentar os voos e as tripulações de carga.

Setor de aviação precisa apoio financeiro e isenção de taxas

A aviação europeia é responsável por 2,6 milhões de empregos diretos e 12,2 milhões de postos de trabalho indiretos. Mas, com a Covid-19, várias companhias foram obrigadas a reduzir drasticamente a sua atividade (nalguns casos até 90%) e a fazer cortes de pessoal, ainda que temporários.

Para a Airlines4Europe e a ERA, a recuperação dos danos provocados pelo surto vai levar tempo, exigirá sacrifícios financeiros e trabalho duro. E para ajudar a essa recuperação, pede a isenção de taxas e encargos fiscais, que devem “ser adiados ou suspensos até que o sector volte a ter uma base operacional e financeira sólida”.

Por outro lado, as associações consideram que as companhias aéreas também devem ser elegíveis no acesso a fundos comunitários, como a Iniciativa de Investimento em Resposta ao Coronavírus, da União Europeia.

Reembolso aos passageiros tem de ser reduzido

O reembolso aos passageiros é uma questão fundamental para as companhias de aviação numa altura em que tanta gente desiste das viagens, por iniciativa própria ou determinação das autoridades nacionais.

Para as associações, é urgente que a União Europeia clarifique urgentemente o regulamento em vigor (EU261/2004) e consideram que deve haver uma declaração oficial dos ministros dos Transportes ou dos organismos nacionais de execução a referir que a Covid-19 é “uma circunstância extraordinária” e como tal, não implica reembolso.



A Airlines 4Europe e a ERA também defendem que, nestas circunstâncias, o chamado “direito a cuidar” (dos passageiros) deve ser limitado. E sugerem que, enquanto o sistema não for revisto, se aplique a proposta da Comissão Europeia feita em 2013 de limitar o alojamento a três noites, com um máximo de 100 euros/noite.

“Cuidaremos dos passageiros e dos funcionários da melhor maneira possível, mas são necessárias medidas que nos ajudem a reduzir o impacto financeiro”.

Por outro lado, sugerem aos Estados-membros que o reembolso aos passageiros no prazo de sete dias após o cancelamento de voo possa ser feito em vales de viagem (em vez de dinheiro) de forma a evitar maiores complicações financeiras para as empresas no curto prazo.

Cancelamento de viagens pode levar à insolvência de milhares de agências

A ECTAA – Associação Europeia de Agências de Viagens e Operadores Turísticos apelou à Comissão Europeia, nesta terça-feira, que permita maior flexibilidade nas regras em matéria de viagens organizadas.

A associação considera que é preciso encontrar uma solução rápida para os cancelamentos de viagens e encerramentos de fronteiras, em consequência do novo coronavírus.

“O cancelamento de viagens está atualmente a causar uma saída exorbitante de liquidez, o que pode levar à insolvência de milhares de empresas de viagens num futuro muito próximo”.

A ECTAA frisa que os governos e a indústria estão a trabalhar em conjunto para encontrar soluções práticas, tanto para os clientes como para as empresas, nomeadamente, “a fornecer aos clientes um voucher para viajar após a crise em vez de reembolsos”. Mas pedem à Comissão um sinal forte para a indústria e defendem uma maior flexibilização da diretiva europeia sobre as viagens organizadas, nesta altura de crise.

A associação europeia de agências de viagens e operadores turísticos toma como exemplo a Nova Zelândia para defender que, tal como aquele país, os governos europeus já deviam estar a considerar a injeção de uma parte significativa do PIB num pacote de despesas, numa tentativa de combater os efeitos da Covid-19 na economia.

Para a ECTTA, “é essencial trazer um sinal positivo ambicioso e forte para ajudar a economia a antecipar a recuperação”.