O número de deslocados devido ao conflito armado em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, subiu em dezembro para 670 mil pessoas, anunciaram as Nações Unidas na mais recente atualização de dados compilados pelas agências humanitárias.
Além das pessoas que fugiram das suas casas, na maioria crianças e jovens, muitas comunidades que os recebem estão sob pressão e estima-se que haja 950 mil pessoas "a enfrentar fome severa" nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula - sendo 242 mil crianças com desnutrição grave.
Os campos foram abandonados e os mercados destruídos, detalha o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
"As comunidades em áreas menos atingidas de Cabo Delgado, bem como nas províncias vizinhas de Niassa e Nampula, estão a demonstrar uma incrível solidariedade e generosidade com os deslocados que fogem da crise", acrescenta.
Mais de 90% estão hospedados "com familiares e amigos", situação que "está a colocar uma enorme pressão sobre os já escassos recursos das comunidades anfitriãs".
Por outro lado, "a insegurança aumentou o custo dos produtos básicos, em muitas partes de Cabo Delgado, especialmente em áreas particularmente afetadas pelo conflito, incluindo os distritos de Palma, Macomia e Mocímboa da Praia".
O OCHA destaca ainda o aumento de casos de cólera, especialmente entre pessoas deslocadas: 55 mortes e quase 5.000 casos estavam contabilizados até 14 de fevereiro de 2021, com o maior número no distrito de Metuge, onde têm funcionado vários campos de acomodação.
O conflito danificou ou destruiu um terço das instalações de saúde na província de Cabo Delgado, especialmente em Mocímboa da Praia, Macomia, Muidumbe e Quissanga.
Os ataques armados crescem desde 2017, alguns foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico desde há ano e meio, mas não há certezas sobre quem está por detrás da violência organizada que tem sido combatida pelas Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM).
Cabo Delgado é uma região rica em pedras preciosas, madeiras e local onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural a partir de 2024.
Diversos relatórios internacionais indicam que a costa da província também faz parte de uma das rotas de tráfico de droga, sobretudo heroína.