Um em cada 5 portugueses tem-se sentido "em baixo" devido às medidas de distanciamento
27-04-2021 - 09:00
 • Carla Caixinha , Cristina Nascimento , Marta Grosso

Apenas a região Norte está com um Rt acima de 1. Especialistas dizem ser importante aumentar a testagem, manter a contenção nos contactos sociais, acelerar a vacinação e revelam que foram detetados seis casos da variante indiana na região de Lisboa. O Presidente da República fala ao país às 20h00.

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A caminho da última fase de desconfinamento, especialistas em saúde pública e políticos reúnem-se nesta terça-feira de manhã. A sessão sobre a “situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal” decorre no Infarmed, em Lisboa.

O atual período de estado de emergência – o 15.º decretado no atual contexto de pandemia – termina às 23h59 de sexta-feira, 30 de abril.

O Presidente da República fala nesta terça-feira ao país às 20h00, depois de ouvir os partidos. Marcelo Rebelo de Sousa já tinha dito esperar que o estado de emergência terminasse na sexta-feira, 30 de abril.

Esta informação foi avançada por fonte oficial da Presidência da República.


Veja o resumo das intervenções:

André Peralta Santos, da Direção-Geral da Saúde – situação epidemiológica

Fala em "tendência estável da incidência acumulativa a 14 dias" e vários pontos "muito positivos" na evolução da pandemia em Portugal.

A incidência de casos no grupo etário 0-9 diminuiu, mas aumentou bastante no grupo 10-20 anos. Estes grupos "não geram especial preocupação porque têm curso de doença positivo".

De notar ainda que o grupo dos mais de 80 anos "mantém tendência decrescente e é o grupo mais protegido".

André Peralta Santos diz que há um crescimento da incidência da Covid-19 em Paredes, Paços de Ferreira e Penafiel, concelhos que "causam preocupação". Em Odemira, um dos concelhos que regrediu na última fase, a tendência é de inversão e, portanto, diminuição da incidência.

No Algarve, a tendência também é descrescente, enquanto a região Norte revela um ligeiro aumento.

O número de hospitalizações está "com tendência ligeiramente decrescente" em todo o país e a ocupação dos cuidados intensivos "baixou das 100 camas ocupadas".

A mortalidade "com evolução muito positiva, decrescente, com cinco mortes por milhão de habitantes e tendência decrescente".

Este especialista da DGS confirma que a testagem aumentou nos concelhos de maior risco, mas subinha que "a positividade está abaixo do indicador de referência dos 4%, o que é muito positivo".


Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge/INSA – incidência e transmissibilidade

Refere que os dados indicam que o valor do R regista um valor de 0,99, o que representa um decréscimo. Falando sobre a evolução da incidência e transmissibilidade do vírus SARS-CoV-2, o especialista adianta que a tendência é de estabilidade e que "muito dificilmente evoluiremos para qualquer um dos cenários". No entanto, a existir evolução, "é para uma decréscimo muito ligeiro".

A taxa de incidência acumulada a 14 dias de 120 casos por 100 mil habitantes "não se encontra no horizonte próximo", esclareceu o especialista.

Por regiões, adiantou o especialista, só o Norte tem um R acima de 1 e que, "a manter-se este ritmo, a fasquia de 120 casos por 100 mil habitantes pode ser atingida daqui a duas semanas a um mês".

Baltazar Nunes olhou ainda para o impacto da reabertura dos estabelecimentos de ensino, considerando que tem sido "muito positivo". O especialista fez uma comparação com a reabertura das escolas em setembro de 2020 referindo que os atuais "níveis de incidência são bastante mais baixos".

Olhando para uma estimativa do que pode acontecer em julho, Baltazar Nunes refere que, a manter-se a pandemia controlada, nesse mês prevê-se que estejam ocupadas 100 camas de enfermaria com doentes Covid e cerca de 30 em cuidados intensivos.

João Paulo Gomes, do INSA – evolução das variantes

A vigilância genética é feita todos os meses, através de amostra positivas enviadas pelos laboratórios. A previsão para o mês de abril é que tenhamos cerca de 1.800 vírus sequenciados. Na última semana, sequenciámos 550 vírus do 1.800 que se pretende sequenciar neste mês.

A variante do Reino Unido está com uma incidência de 89/90% nos casos positivos em Portugal. É a mais contagiosa com que já nos deparámos.

No que se refere à variante do Brasil, de Manaus, Portugal está com 73 casos, 44 dos quais detetados nas últimas duas semanas. Começa a ser mais preocupante, decorrente da reabertura de fronteiras.

Todos os países registaram, nestas semanas, uma tendência crescente de novas confirmações associadas a esta variante.

Quanto à variante da África do Sul, a mesma tendência geral nos países, sendo que em Portugal há 64 casos, 11 dos quais detetados nas últimas duas semanas.

Nesta semana, foram detetados os primeiros seis casos da variante indiana, todos na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT).

Todos estes casos são comunicados em tempo real à DGS, de modo a quebrar as cadeias de transmissão.

"Num tempo de variantes, em que parece que todos os dias surge uma num país", João Paulo Gomes diz ser normal que caminhemos para termos uma imunidade de grupo, com maior número de infetados e maior taxa de vacinação. Neste momento, o vírus está a lidar com uma população cada vez mais imune e é expectável que apenas os vírus que sejam capazes de ludibriar o nosso sistema imunitário vinguem, refere.

"Nada do que está a aparecer agora é novo. Eventualmente o que é novo é o tipo de mutações", esclarece ainda. "O cenário com que nos temos deparado nos últimos meses é o mesmo com que nos vamos deparar nos próximos meses. As mutações estão relacionadas com a capacidade do vírus de lidar com a imunidade que vamos criando", acrescenta.

As vacinas estão a portar-se "muitíssimo bem" em relação às variantes do Reino Unido, do Brasil e da África do Sul, pelo menos nas consequências mais gravosas.

"Situação epidemiológica em Portugal no que toca às variantes faladas não impede a continuação do plano de desconfinamento", conclui o especialista.


Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto – "viagem pela vacinação"

Um dos primeiros dados avançados é que a percentagem de pessoas que quer ser vacinada é maior entre os mais velhos do que entre os mais novos e maior entre quem tem rendimentos mais confortáveis.

"Sem vacina teríamos um retorno a um pico como o que vivemos há uns meses", disse o especialista, sublinhando a relevância do processo de vacinação. Com vacinas "podemos olhar com tranquilidade para a evolução" da pandemia, frisou.

"A probabilidade de morrer com Covid é atualmente de 0,5%", disse Henrique Barros, destacando as melhorias face a meses anteriores.

Henrique Barros referiu ainda que uma pessoa infetada com a variante do Reino Unido tem maior probabilidade de morrer do que se for infetada com outra variante. O especialista referiu ainda que não há casos de morte identificados relacionados com a variante brasileira.

Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa – áreas críticas e perceções sociais

Quanto à identificação das áreas, o estudo identifica concelhos ou grupo de concelhos dizendo que, naquele período de tempo, é a melhor ou pior situação que pode ocorrer. Esta informação tem depois de ser cruzada com outros indicadores, como Rt, incidência, entre outros.

Nas últimas quatro semanas, há essencialmente três fatores a focar:

  • se são concelhos isolados ou grupos de concelhos
  • quando são grupos, discriminar quais os mais e menos críticos em relação ao esperado
  • sequência verificada ao longo do tempo

O Sul revela estar numa situação mais grave, bem como a zona de Paredes. São alertas que precisam de ser cruzados com outros dados.

Há 'clusters' com riscos muito elevados, no sentido em que se distinguem das outras áreas, alguns com prolongamento temporal. Possível recuperação depende do nível de infeção da comunidade e das medidas impostas.

Se houver áreas a recuperar mais lentamente do que o resto do país, serão as de maior preocupação.

Em relação às perceções sociais, em termos de saúde temos padrões recentes com pequenas oscilações. No estado de saúde mental, todos os dias um em cada cinco portugueses diz que se sente em baixo devido às medidas de distanciamento físico.

São comportamentos concordantes com o estado de confinamento e, apesar disso, as medidas de contenção devem ser mantidas.

Nas últimas duas semanas, vemos uma recuperação do número de pessoas que precisou de uma consulta médica, marcou e foi: quase 80% dos inquiridos. Há uma recuperação consistente na confiança nos serviços de saúde.

A facilidade de estar mais afastado do convívio e cumprir as regras, sendo dos indicadores mais fortes da motivação e a motivação relacionada com o comportamento, se conseguirmos continuar a capacitar as pessoas e a dar-lhes oportunidades para terem os comportmentos mais adequados até aqui, continuaremos a ter bons resultados.

Mais de 85% dos inquiridos consideram as vacinas eficazes. Os grupos etários 26-45 e 46-65 são os que mais põem em causa a eficácia e segurança das vacinas. São valores confortáveis para o plano de vacinação, considera a especialista da Universidade Nova de Lisboa.


Vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da "task Force" – ponto de situação do plano de vacinação

"Limites de idades pode condicionar a utlização de meio milhão de vacinas", começou por revelar Gouveia e Melo e "pode atrasar a meta da proteção de 70% da população".

O vice-almirante disse que, no terceiro trimestre, as limitações de idades com duas vacinas que estão a ser usadas podem retirar ao plano 2,7 milhões de doses de vacinas.

Gouveia e Melo referiu que, entre esta terça e quarfa-feira, devemos atingir a marca de três milhões de inoculações no continente e no fim desta semana teremos cerca de 22% da população com pelo menos uma dose da vacina.

O coordenador referiu ainda que a faixa acima dos 80 anos está praticamente toda vacinada e que o mesmo deve acontecer até ao fim desta semana na faixa entre os 70 e os 79 anos. Gouveia e Melo reforçou que a 23 de maio devem estar vacinados quase todos os acima de 60 anos.

Marcelo agradece

No final da sessão, o Presidente da República agradeceu a todas as equipas de especialistas que participaram nas sessões no Infarmed a ajuda que têm dado aos decisores políticos ao longo de mais de um ano.

Numa curta intervenção por videoconferência, o chefe de Estado disse querer "agradecer uma vez mais e hoje de forma muito impressiva aos intervenientes" nesta sessão e também "agradecer nas suas pessoas a todas as equipas que têm ao longo do tempo e continuam ao longo do tempo a colaborar nesta missão".

Trata-se de "uma missão essencial de ajuda aos decisores políticos, nomeadamente ao Governo, mas também ao Presidente da República e também à Assembleia da República", afirmou.

"Sem esse papel de conselho, de análise, de reflexão, de pesquisa, não seria tão fácil, eu diria mesmo não seria possível aos decisores agirem como têm tentado agir ao longo de mais de um ano de pandemia", considerou.

O Presidente da República ouve, nesta tarde, os partidos sobre o possível fim do estado de emergência, que já disse esperar que terminasse na sexta-feira, dia 30 de abril, algo que fez depender dos dados da Covid-19 em Portugal.

Na segunda-feira, o primeiro-ministro disse ter a "esperança" de que o país pudesse dar, na próxima semana, o "passo que falta" no processo a "conta gotas" de reabertura da atividade económica e social após o confinamento.

O índice de transmissibilidade (Rt) do coronavírus SARS-Cov-2 em Portugal subiu para 0,99, enquanto a incidência de casos de infeção por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias desceu para 70,4, segundo os dados da DGS divulgados na segunda-feira.

Estes indicadores – uma incidência de números de casos de Covid-19 abaixo dos 120 por 100 mil habitantes e índice de transmissibilidade (Rt) inferior a 1 – são os critérios definidos pelo Governo para a avaliação contínua do processo de desconfinamento que está em curso.

Na segunda-feira, a DGS divulgou que nas últimas 24 horas não houve registo de mortes relacionadas com a Covid-19 em Portugal, onde desde março do ano passado já morreram perto de 17 mil pessoas com a doença e, somente num dia, em 3 de agosto, não tinha havido mortes.