José Sócrates diz que o processo judicial de que tem sido alvo pretende a sua “destruição política”. “Queria evitar a minha candidatura à Presidência da República e a vitória do PS nas eleições. Conseguiram as duas coisas”, disse o antigo-primeiro ministro, em entrevista ao jornal espanhol “El País”.
Na entrevista ao jornal espanhol, Sócrates reitera as críticas à justiça portuguesa, dado que, “ao fim de nove meses, continua a não existir nem provas, nem acusação”.
“Parece que o vão acusar de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção”, lança o jornalista. Sócrates responde: “É a moda”.
“A acusação de corrupção transformou-se num instrumento jurídico para a destruição política. Antes para eliminar um político acusava-se de o atentar contra a segurança do Estado. Agora é a falsa acusação de corrupção. Não é preciso factos nem provas, basta acusar para que tenha o efeito de assassinato político”, lamenta Sócrates.
Lula e um “curioso paralelismo”
Nesta entrevista, Sócrates fala ainda sobre o actual momento do Brasil, considerando que há “um curioso paralelismo" entre o seu próprio processo judicial e o que neste momento envolve Lula da Silva no Brasil.
“Houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa”, afirma, acrescentando ainda que, no caso do Brasil, a tentativa de destituição da Presidente Dilma Rousseff é “vingança política da direita, “que não aceita a derrota nas urnas”
O jornal espanhol questiona se o Sócrates arguido sobre se gostaria de ter tido mais apoio do PS. “Nunca me senti sozinho”, respondeu.
Marcelo, a troika e a Europa
Sócrates foi ainda questionado sobre o recém-eleito Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O antigo primeiro-ministro diz que nunca gostou do interesse de Marcelo em “agradar a toda a gente”. “O Presidente Marcelo sempre foi um personagem em busca do seu papel político. E descobriu-o finalmente, o papel dos afectos, eixo de todo um novo programa político”, disse.
Já na recta final da entrevista, Sócrates é questionado sobre os efeitos da “troika” em Portugal. Responde que os anos entre 2010 e 2015 “foram terríveis” e que “deixaram um rasto de pobreza”.
Sócrates criticou ainda os centros de decisão europeus que “tomam decisões político-financeiras” sem ter de “prestar contas a um parlamento, estão afastados do debate político”.
“É o governo do nada: ninguém o exerce, nada é responsável e nada é responsabilizado”, acrescenta.
“Para quem viu no projecto europeu o ideal político da sua geração, estes são tempos de grande desilusão”, rematou.