A presidência russa acusou esta quarta-feira os Estados Unidos e a Europa de impedirem o lançamento de conversações de paz sobre a Ucrânia, ao contrário da Rússia e da China.
“Washington e as capitais europeias, mas sobretudo Washington, estão desejosos de não permitir, sob qualquer pretexto, negociações de paz. Eles simplesmente não permitem que Kiev sequer pense nisso”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O Kremlin reagia a declarações da administração norte-americana, que rejeitou o plano de paz proposto pela China por considerar que, entre outras questões, “ratificaria as conquistas ilegais da Rússia” na Ucrânia.
Peskov considerou que os Estados Unidos e as potências ocidentais “largaram a sua máscara”, embora o Kremlin entenda esta situação “como uma realidade com a qual se tem de viver”, segundo a agência espanhola Europa Press.
“Quanto à reação dos países do Ocidente coletivo, o facto de a sua reação sobre todas as questões ter sido de natureza hostil não é novidade para ninguém”, disse Peskov, citado pela agência francesa AFP.
A China propôs um plano de paz para resolver o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que divulgou em 24 de fevereiro, no primeiro aniversário da invasão russa do país vizinho.
No plano, a China pede um cessar-fogo, negociações de paz e o fim das sanções contra a Rússia, mas também defende o respeito pela soberania e integridade territorial de todos os países.
Aluda também às “legítimas preocupações de segurança de todas as partes”, numa referência à Rússia.
O plano foi rejeitado pela Ucrânia e pelos seus aliados ocidentais, por considerarem que significaria deixar as tropas russas em território soberano ucraniano.
A Rússia anexou cinco regiões ucranianas, a começar pela Crimeia em 2014, a que se seguiu Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, em setembro do ano passado.
O plano chinês foi discutido em Moscovo pelos líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, na segunda e na terça-feira.
Putin admitiu que o plano contém disposições “consonantes com as abordagens russas” que podem ser uma base para um eventual acordo com a Ucrânia.
O Kremlin disse também hoje que Putin e Xi não discutiram o plano de paz do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que tem como pré-condição a retirada das tropas russas de todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia.
“Não, o plano de paz ucraniano não foi discutido. Houve uma troca de opiniões sobre as cláusulas do plano de paz chinês”, afirmou Peskov, citado pela agência espanhola EFE.
Segundo Peskov, o “plano Zelensky” é um assunto a ser discutido pela China e pela Ucrânia.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês não forneceu hoje pormenores sobre uma possível conversa telefónica entre Xi e Zelensky.
“A China não tem motivos egoístas na ‘questão’ ucraniana e não acrescentou combustível ao incêndio”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa Wang Wenbin, segundo a EFE.
Wang respondia a declarações do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, John Kirby, que acusou Pequim de “não ser imparcial” por Xi “não ter visitado a Ucrânia nem falado com Zelensky”.
A China “não criou a ‘crise’ na Ucrânia, nem é parte [do conflito] ou forneceu armas a nenhum dos lados”, disse Wang.
Nos últimos dias, tem havido especulações sobre a possibilidade de uma chamada telefónica entre Xi e Zelensky, após a viagem do líder chinês a Moscovo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, disse por telefone, na semana passada, ao seu homólogo ucraniano, Dmitry Kuleba, que Pequim quer desempenhar um “papel construtivo” na promoção de conversações de paz.