A adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) vai demorar no mínimo uma década e o estatuto de candidato representa, sobretudo, “uma nova alma para os combatentes” ucranianos que lutam contra a invasão russa, defendem especialistas ouvidos pela Renascença.
Para Mário David, antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, “hoje é um dia histórico”, mas a espera da Ucrânia para entrar na UE será necessariamente longa: uma "década no mínimo".
O antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus diz que o "sinal política importante" chega devido ao estado de guerra na Ucrânia, mas sublinha que representa apenas um sinal.
Ao contrário do que pretendia a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não existirá uma via rápida para a adesão da Ucrânia.
Na leitura de Mário David, Ursula von der Leyen viu-se hoje obrigada a fazer uma "pirueta à retaguarda, porque o que ela queria propor era que a Ucrânia teria o estatuto de candidato e o processo ia ser tratado de forma muito expedita".
"A grande maioria dos chefes de Estado da UE fizeram-na ver que a senhora estava perfeitamente enganada e que é presidente da Comissão Europeia e está ao serviço e para seguir as diretivas emanadas do Conselho Europeu", sublinha.
A Comissão Europeia recomendou esta sexta-feira que seja concedido à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à União Europeia. O Conselho Europeu terá agora de ratificar a decisão.
"Uma nova alma para os combatentes ucranianos"
Ouvido pela Renascença, Paulo Sande, professor universitário e especialista em assuntos europeus, considera que a luz verde de Bruxelas “é verdadeiramente o insuflar de um novo ânimo na resistência ucraniana”.
“É sobretudo um estado de alma, uma nova alma para os próprios combatentes. Sabem que a partir de agora podem aspirar a fazer parte da família europeia e da União Europeia. Os responsáveis ucranianos têm dito que a Ucrânia luta não apenas por si própria, mas pela Europa e pelos valores europeus.”
Paulo Sande considera que, com o estatuto de candidato, estamos a assistir a um modelo mais prudente, em que assume que o país tem condições para integrar a UE, mas que ainda há muito a fazer.
“O estatuto de candidato, e ainda nem estamos ainda a falar de abertura de negociações… estamos assistir a um modelo completamente diferente e que me parece muito mais prudente É um modelo em que se diz que este país está condições [para ser candidato], a sua liderança e o seu regime respeitam os valores fundamentais, mas ainda têm muitas mudanças a fazer.”
A Comissão Europeia recomenda o estatuto de candidato para a Ucrânia e para a Moldávia, enquanto para a Geórgia entende serem necessários mais passos.
“Dessa perspetiva, este tratamento diferenciado entre a Geórgia e a Moldávia também tem a ver com isso. Tem a ver com um regime na Moldávia que é diferente do regime na Geórgia, onde há alguma confusão neste momento até em termos ideológicos”, sublinha Paulo Sande.