​O que aconteceu a Benfica e Porto depois dos 5-0 de 1996 e 2010?
04-03-2024 - 12:15
 • Hugo Tavares da Silva

Numa viagem ao passado, Bola Branca dá conta do que aconteceu nas outras duas vezes em que o FC Porto meteu cinco golos na baliza do grande rival de Lisboa

Não deverá haver dor maior nas andanças do futebol do que esta de ser goleado por um grande rival. Não é assim tão raro também, vê-se sempre pelo mundo fora esses pedaços de pecado ou céu, consoante os olhos. Depois há o raro caso de Michael Laudrup, por exemplo, que esteve em dois 5-0 em duas épocas consecutivas no clássico espanhol, sendo que esteve sempre do lado certo da história.

No domingo, ainda com as feridas sangrentas depois do dérbi da Taça de Portugal, o Benfica voltou a sofrer uma derrota pesada com o FC Porto. Não é preciso puxar muito pela cabeça para lembrar quando é que tal aconteceu.

Em 1996, foi no Estádio da Luz, imagine-se. O Porto era campeão e o Benfica tinha ganhado aquela trágica final do Jamor. No dia 18 de setembro, as equipas de Paulo Autuori e António Oliveira entraram em campo para decidir a Supertaça. Artur marcou logo aos 3’. Depois, Edmilson e Jorge Costa levaram o marcador para o 3-0.

Preud’homme, Bermúdez, Valdo e João Vieira Pinto não sabiam como travar a rapaziada do outro lado. Zahovic dava o pãozinho aos colegas e Conceição, o número 7, ia sendo Conceição. Wetl fez o 4-0 e a Luz corou de vergonha. Mas aquelas gentes das Antas não tinham piedade e continuaram: Drulovic, 5-0.

O Benfica já ia vivendo o tal “vietname”, o período mais negro da sua história. O FC Porto ia vestindo um penta. No final dessa temporada 1996/97, os dragões terminaram a temporada em primeiro, com 85 pontos, muito longe de Sporting (72) e Benfica (58). Jardel fez 30 golos. Na Liga dos Campeões, a equipa de Oliveira caiu apenas nos quartos de final, contra o Manchester United, depois de um 4-0 avassalador no Old Trafford.

Já os lisboetas, que ficaram longe longe longe do rival do norte, caíram nos ‘quartos’ da Taça das Taças, contra a Fiorentina de Rui Costa e Stefan Schwarz.

Esta espécie de maldição, que aparentemente acontece a cada 14 anos (1996, 2010 e 2024), voltou a dar-se porém desta vez numa época dourada do Benfica (foi um clássico cheinho de curiosidades). Já campeões nacionais, com o tal rolo compressor de Jorge Jesus, Aimar e companhia iam espalhando magia pelos relvados. Para travar essa lengalenga, Pinto da Costa apostou em André Villas-Boas.

O futebol dos dragões transformou-se em algo vistoso, impecável, elegante e artístico, mantendo aquela fome do costume. No dia 7 de novembro de 2010, a contar para a jornada 10 da Liga, Hulk, Moutinho, Belluschi e Falcao passaram por cima dos visitantes que usam a farda encarnada e que também tinham um central a defesa esquerdo (David Luiz). Aos 29’ estavam 3-0. Luisão, tal como agora com Nicolás Otamendi, foi para a rua quase a 20 minutos do fim. Hulk bisou depois nos últimos 10 minutos e o Dragão testemunhou mais um 5-0 épico.

Uns anos depois, Villas-Boas, que agora é candidato à presidência do FC Porto contra Pinto da Costa, disse que o Benfica “sentiu medo”.

A ressaca dessa época é elucidativa e o clássico ajudou a marcar as diferenças, quando o universo benfiquista vivia um certo deslumbramento. Mais uma vez, o FCP foi campeão e com muita distância, com mais 21 pontos do que o Benfica e 36 do que Sporting. Hulk, tal como Jardel noutra vida, foi o melhor marcador com 23 golos, mais sete do que Radamel Falcao e João Tomás.

Na Europa, correu tudo às mil maravilhas para os nortenhos, com a vitória na final contra o SC Braga. Falcao fez um golo maravilhoso. O espectáculo do costume foi ainda vislumbrado no Jamor, com um 6-2 contra o Vitória de Guimarães. James Rodríguez fez três golos.

O Benfica, que já havia perdido a Supertaça contra o FC Porto, caiu na Taça de Portugal, na semifinal, contra os dragões. Na Liga dos Campeões, os senhores da Luz não foram além da fase de grupos, enquanto na Liga Europa a desilusão chegou apenas na meia-final, contra o Braga de Domingos Paciência.

O que resta da temporada 2023/24 é difícil de antecipar, mas este foi talvez o clássico de chapa 5 que mais surpreende, pois o momento das equipas, pouco animador, não fazia prever tal coisa. Afinal, o Porto tinha apenas 38 golos marcados em 23 jornadas e o Benfica, ainda que numa constante intermitência, seguia na liderança da Liga com mais nove pontos que o rival.

Agora, uns ganham nova vida e podem correr atrás de algo mais com outra leveza, enquanto os outros tentam afastar as nuvens. O futebol é isto, não é assim que dizem?