A pior crise europeia de movimentação de pessoas desde a II Guerra Mundial arrisca desencadear "mudanças tectónicas", preveniu o presidente do Conselho Europeu. Mais de 700 mil chegaram este ano à Europa através do Mediterrâneo.
"A situação vai deteriorar-se ainda mais", afirmou Donald Tusk, alertando para "uma nova vaga de refugiados provenientes de Alepo e de outras cidades sírias sob bombardeamentos russos".
Ao falar no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, disse: "Não tenho dúvidas de que este desafio tem o potencial para mudar a União Europeia que construímos". Para enfatizar a sua perspectiva, Donald Tusk sublinhou que "o que é mais perigoso é que [o desafio] tem o potencial para criar mudanças tectónicas na paisagem política europeia, e não são mudanças para melhor".
O presidente da Comissão Europeia já criticou os Estados-membros por não cumprirem o que prometeram, por exemplo no fornecimento de agentes para a agência europeia de fronteiras (Frontex), destinados aos pontos de registo de migrantes na Grécia e na Itália.
Dos 775 prometidos, apenas foram avançados 326, pormenorizou Juncker, que criticou também a falta às promessas de apoio financeiro.
A Organização Internacional das Migrações (OIM) prevê que o fluxo não se reduza, apesar da rápida aproximação do Inverno, depois de reportar a chegada de mais de nove mil pessoas à Grécia durante o fim-de-semana.
Com a maioria destes migrantes a procurarem chegar ao norte da Europa, o fluxo tem submergido os países situados na designada rota dos Balcãs e colocado sob ameaça o sistema Schengen.
Tensões na Europa
Mais de 83.600 pessoas chegaram à Eslovénia desde meados de Outubro, depois de a Hungria ter encerrado a sua fronteira com a Croácia com arame farpado, disse esta quarta-feira fonte policial citada pela Reuters.
Sem resolução rápida deste fluxo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, país que tem uma população de dois milhões de pessoas, já disse que pondera a instalação de uma barreira na fronteira, guardada por "forças".
As pressões na fronteira já desencadearam trocas agrestes de acusações entre a Eslovénia e a Croácia nos últimos dias.
Mais acima, a persistente onda de chegadas também provocou tensões entre a Áustria e o Estado alemão da Baviera, que acusou a polícia fronteiriça austríaca de deixar passar milhares de pessoas sem informar as autoridades locais bávaras.
Mais de 700 mil migrantes chegaram em 2015 à Europa através do Mediterrâneo e 3.210 morreram ou desapareceram durante a travessia, anunciou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
No total, foram 705.200 os migrantes que atravessaram o Mediterrâneo, 562.355 dos quais chegaram à Grécia e 140.000 a Itália.