Assinado o novo tratado de amizade e cooperação entre Portugal e Espanha e os oito acordos bilaterais, que incluem, por exemplo, a criação do estatuto do trabalhador transfronteiriço, os jornalistas portugueses e espanhóis centraram as perguntas na crise política que se vive em ambos os países, criada com base num mesmo problema: as leis laborais.
Em Trujillo, onde se realizou esta quinta-feira a Cimeira Luso-Espanhola, o primeiro-ministro português esquivou-se às perguntas sobre o que se segue, após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, dizendo que no estrangeiro não tem costume de falar sobre política nacional e respondendo apenas aos jornalistas que "a realidade política vai desenvolver-se serena e calmamente em Portugal".
Perante a insistência dos jornalistas em saber por que razão tem colocado em cima da mesa o cenário de o país continuar a ser governando em duodécimos, algo que o Presidente da República já veio recusar, António Costa atira para "única pessoa que pode e deve responder": o próprio Marcelo Rebelo de Sousa, "porque é isso que determina a Constituição”.
Costa acrescentou que, "no espírito de cooperação institucional" que o Governo sempre manteve com o Presidente, agirá "conforme" Marcelo "assim decidir".
Ao seu lado, António Costa tinha o presidente do governo de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, que foi desafiado a pronunciar-se sobre a crise política portuguesa e a lançar um rasgado elogio a António Costa, referindo "Portugal como um exemplo de estabilidade" e que no Conselho Europeu tem visto "poucos presidentes de governo com as capacidades do primeiro-ministro português de diálogo, de trabalho para chegar a acordos e de cumprir esses acordos".
Um dia depois do chumbo do Orçamento do Estado no Parlamento, o discurso de Costa no encerramento do debate e votação na generalidade foi replicado por Sánchez no final da cimeira luso-espanhola.
Costa falava esta quarta-feira numa "maioria reforçada, estável e duradoura" para o PS no caso de existirem eleições legislativas antecipadas em Portugal e em Trujillo ouviu presidente do governo espanhol usar a mesma expressão.
Sánchez deseja uma "maioria reforçada" para o PSOE, após o cumprimento da legislatura em 2023 e promete que vai "trabalhar para que seja com uma maior representação parlamentar", desejo claramente idêntico ao de Costa.
Há outra semelhança entre a realidade espanhola e portuguesa que ficou patente na conferência de imprensa dos dois líderes. A crise política provocada pelo chumbo do Orçamento do Estado em Portugal e a tensão que se vive no governo espanhol são baseadas num mesmo tema: leis laborais.
Em Espanha, Pedro Sanchez está a tentar levar a cabo uma reforma laboral que está a provocar alta tensão dentro do Governo, com os parceiros de coligação PSOE e Podemos ainda longe de um acordo sobre uma das principais bandeiras políticas de ambas as forças políticas.
Ora, tendo em conta o cenário de negociação do Orçamento do Estado entre o Governo de António Costa e os até agora parceiros parlamentares PCP e Bloco de Esquerda e sobretudo o desfecho, a base foi exatamente a mesma: a legislação laboral, grosso por exemplo das propostas que os bloquistas levaram para a discussão com o PS e o Governo.
Orçamento chumbado em Portugal, na vizinha Espanha o presidente do governo, Pedro Sánchez, espera "o máximo diálogo e os maiores consensos para a reforma laboral", salientando os acordos que foram, entretanto, alcançados com os parceiros sociais.