Maria das Dores Meira mostra-se visivelmente contente com o número de inscritos para o voto antecipado deste domingo, são mais de duas mil - no sábado eram, exatamente, 2.225 - as pessoas que, no município de Setúbal, querem ir às urnas com uma semana de antecedência. Mas está preocupada com os receios da população e, sobretudo, dos cidadãos que devem garantir o funcionamento das assembleias de voto.
Em conversa com a Renascença, a presidente da câmara diz que "o voto antecipado está a ter uma grande adesão, já nas últimas eleições teve" e que nestas o número de inscritos até chega a ser superior em relação às últimas eleições. "Eram 800, mil e agora 2225 é muito bom", remata a autarca.
A operação está a ser preparada em plena Avenida Luísa Todi. No Cais 3, no centro de Setúbal, estão prontas cinco secções de voto e estavam a ser ainda preparadas "mais duas secções de voto", com Maria das Dores Meira a garantir que tudo está a ser feito no "cumprimento devido das regras sanitárias".
A autarca insiste muito ao longo da conversa que "as pessoas vão ter uma grande distância social, vão estar muito funcionários da câmara a garantirem a limpeza, a desinfeção da sala, está tudo preparado: as mesas, isso tudo".
Tanta insistência percebe-se depois porquê. Maria das Dores, em jeito de lamento, diz que está com "alguma dificuldade em relação às pessoas que têm de compor as mesas das assembleias de voto".
A pandemia está a provocar receio na população em sair de casa para estar nas secções de voto e, segundo a autarca, "as pessoas estão a desistir, não querem ali estar, porque têm frio, têm medo, há umas pessoas idosas que têm medo, há outras pessoas que dizem que não querem estar".
A autarca admite que "provavelmente" será necessário "resolver com funcionários do município" e garante que irá "ter os funcionários e uma data de gente a assegurar este direito ao voto".
O fantasma da abstenção está assim presente, porque se é assim com o pessoal das assembleias de voto, a questão é como é que vai ser este domingo e o próximo, 24 de janeiro, data oficial das eleições.
A resposta de Maria da Dores Meira é um "vamos ver o que acontece", garantindo que a câmara anda a tentar "tranquilizar na medida do possível, há que ter confiança". E acrescenta que em “todas as atividades que a câmara tem organizado durante esta situação pandémica não há um único exemplo de contágio".
É, portanto, ver o que acontece, com a autarca a desabafar que "era bom que as pessoas não tivessem medo e utilizassem o seu direito de voto".
Como eleita pelas listas da Coligação Democrática Unitária (CDU) e comunista militante, Maria das Dores recorda que "tempos houve em que as pessoas não tinham esse direito a votar, custou muito a conquistá-lo, era não o perderem".
Em relação aos eleitores que estão infetados com Covid-19 e em isolamento em casa, e que requererem o voto, os funcionários da autarquia vão "devidamente fardados ao domicílio" recolher o voto e "neste momento passaram já os 80 casos" de infectados que manifestaram intenção de votar assim.
No Estabelecimento Prisional de Setúbal, onde a recolha de votos decorreu na terça feira passada, segundo a presidente da câmara "votaram muitos reclusos”. “Normalmente são quatro ou cinco reclusos e este ano votaram quarenta e seis reclusos, o que foi sintomático”, afirma
É a própria autarca que vai à cadeia fazer a recolha dos votos e questionada sobre o motivo por que desta vez teve tanto recluso a votar, Maria das Dores ri-se e diz que tem "um palpite".
Trata-se de "muita gente de etnia cigana, percebe-se a tendência de voto deles e outros reclusos, que não sendo de etnia cigana, faziam algumas declarações também interessantes nos corredores, do género 'não queremos, por exemplo, prisão perpétua', daí o medo daquilo que alguns, nomeadamente um dos candidatos, propaga", resume a autarca do PCP.