Rui Gomes da Silva pede a Vieira que mostre "amor ao Benfica" e apresente a demissão
08-07-2021 - 13:30
 • José Barata com Renascença

O antigo "vice" de Luís Filipe Vieira e candidato assinala que quem estava em torno do presidente do Benfica "não poderá invocar surpresas ou contradições que não conhecia".

Rui Gomes da Silva, "vice" de Luís Filipe Vieira durante sete anos e candidato às eleições de outubro, considera que resta apenas uma solução ao presidente do Benfica, após a sua detenção: demitir-se.

Em entrevista a Bola Branca, Gomes da Silva diz que Vieira deve colocar em primeiro lugar os interesses do clube. A demissão de do líder encarnado é a "única medida que estaria de acordo com esse amor ao Benfica, invocado por tanta gente" e apregoado pelo próprio.

"Se eu estivesse [nessa situação], o que é impossível porque nunca estaria numa situação em que fosse acusado de prejudicar o Benfica e de fazer negócios com jogadores ou ações do Benfica, como é evidente levaria a apresentar imediatamente a demissão e não condicionar a vontade de todas as outras pessoas em relação a interesses pessoais", declara.

A Renascença sabe que, caso as medidas de coação impeçam Luís Filipe Vieira de exercer funções como presidente do Benfica, Rui Costa assumirá a liderança do clube e da SAD, com apoio da direção.

"Não venham dizer que não sabiam"


Se Luis Filipe Vieira pedir a demissão, Rui Gomes da Silva garante que aceitará a posição que os restantes membros da direção tomarem. Contudo, deixa claro que terão de assumir responsabilidade pelas consequências de "uma decisão que lhes compete na íntegra".

"Se acharem que têm condições para continuar e não colocarem os seus lugares à disposição, porque ganham muito ou porque gostam de ir ao futebol à borla ou porque gostam de ir para os camarotes presidenciais, serão responsáveis por essa decisão. Se convocarem eleições antecipadas, também serão responsáveis pela instabilidade que criarão e pela falta de condições para construir uma equipa. O que peço é que gostem do Benfica, mesmo que seja a última coisa que façam no Benfica. Mesmo aquelas pessoas que durante muito tempo estiveram no Benfica sem serem do Benfica. E há lá muitos, infelizmente", atira.

Caso se mantenham em funções no Benfica, os parceiros de direção de Luís Filipe Vieira "não poderão invocar surpresas ou contradições que não conheciam", avisa Rui Gomes da Silva. "Eu estive lá sete anos e nunca invocaria desconhecimento de situações", assinala.

Rui Gomes da Silva salienta que é importante ter noção de que "Luís Filipe Vieira era uma assinatura". Para o antigo "vice" encarnado, "havia negócios que eram evidentes", pelo que tinha de haver mais gente, além de Vieira, a "perceber o negócio que havia naquelas situações".

"Podia ser a vontade única exclusiva do Benfica, mas era uma assinatura. Para que tivessem existido esses negócios, houve alguém que teve de assinar com Luís Filipe Vieira. Não sei quem, sei na altura o que assinei quando fui vice-presidente do Benfica e quando fui administrador da SAD. Mas tem de haver outras pessoas que assinaram, não me venham dizer que o Luís Filipe Vieira também lhes falsificava a assinatura."

Foi assim que aconteceu


Luís Filipe Vieira foi detido, na quarta-feira, após buscas, por suspeitas de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Esta quinta-feira, o presidente do Benfica deverá ser presente a primeiro interrogatório judicial e conhecer as medidas de coação aplicadas. Caso estas impeçam Vieira de exercer funções, Rui Costa suprirá a sua ausência como presidente do Benfica.

De acordo com o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), estão em causa “negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades”.

O DCIAP informou que tinham sido detidas quatro pessoas (um dirigente desportivo, dois empresários e um agente do futebol), na sequência de cerca de 45 mandados de busca a sociedades, residências, escritórios de advogados e uma instituição bancária, em Lisboa, Torres Vedras e Braga.

Segundo o "SOL", os restantes detidos são o filho do presidente do Benfica, Tiago Vieira, e os empresários José António dos Santos, acionista da SAD encarnada e conhecido como "Rei dos Frangos", e Bruno Macedo.

Em causa estão “factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente” e suscetíveis de configurarem “crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento”.

Em comunicado à CMVM, a SAD do Benfica confirmou a detenção e constituição como arguido de Luís Filipe Vieira, e demarcou-se da investigação, adiantando que as funções do presidente serão "asseguradas nos termos previstos na lei e nos estatutos" da sociedade.

Já a direção do clube garantiu que a competitividade e gestão estão "asseguradas, no respeito e em observância das normas regulamentares estabelecidas nos estatutos", e que estava "firmemente [determinada] a defender sem qualquer reserva, de forma coesa e como [lhe] compete, os interesses do clube, que, esclarece-se, não é objeto da investigação".