O Ultimate Frisbee, um desporto de disco, está a ser cada vez mais procurado, principalmente noutros países da Europa e Ásia, mas em Leiria há um clube, o único do país, que tem duas equipas.
É o Leiria Flying Objects, que treina habitualmente no relvado do Complexo Desportivo dos Pousos, Leiria.
A modalidade desportiva não tem árbitro, pode jogar-se dentro de quatro paredes ou ao ar livre, por eles e por elas, é económica e carece de “fair-play”.
Paula Norte tem 43 anos e joga desde 2011, atraída sobretudo pela especificidade do jogo. Em declarações à Renascença, a atleta disse que “o facto de sermos nós próprios a fazermos a gestão do jogo em termos de possíveis faltas” é particularmente interessante.
Esta característica do jogo, explica Paula, “faz com que nós tenhamos de ter um controlo e uma forma de estar que não é normal noutros desportos.”
Isso foi também o que atraiu Diogo Bagagem, de 20 anos. Começou a praticar o Frisbee no desporto escolar na Escola Secundária da Batalha, depois de 10 anos a praticar futebol e vê bem as diferenças.
Uma delas é o facto de “o Troféu Espírito de Jogo” ser o principal e não o ficar em primeiro ou segundo lugar.
Mas não se pense que estes atletas não fazem tudo para vencer um jogo.
João Sousa Lopes, o treinador da equipa Leiria Flying Objets, admitiu à Renascença que “se o nosso adversário for muito bom e o jogo for muito bem disputado, a vitória sabe muito melhor”.
“O não darmos o nosso melhor” é questão que “nunca se põe e toda a gente quer ganhar”, salienta o treinador.
Frisbee faz falta nas escolas
Pelo facto de estimular o “fair-play”, o professor de Educação Física defende que a modalidade devia ser mais implementada nas escolas.
Para João Sousa Lopes, o Frisbee tem “um potencial enorme no que toca à capacidade de ensinar valores que, neste momento, se estão a perder”.
O professor diz que a modalidade ensina que “eu não preciso de fazer nenhuma maldade, apenas jogar”, pois dá-nos a compreensão de que “o outro também quer ganhar”. E o outro, além de ser “um adversário no momento” também pode ser “um amigo”. O Frisbee é, por isso, uma modalidade que “faz falta na escola”.
Em Leiria, as duas equipas de Frisbee treinam duas vezes por semana no relvado do Complexo desportivo dos Pousos e uma vez na praia.
Mas, em Portugal, apesar da formação recente de 20 professores, o crescimento tem sido lento. “A expansão é sempre muito complexa num país que está muito agarrado ao futebol”, lamenta José Amoroso, o fundador do clube Leiria Flying Objects.
José Amoroso gostaria de ver os professores “com mais energia”.
Noutros países, e ao contrário de Portugal, o interesse tem crescido a um ritmo mais acelerado.
Segundo o também professor do Instituto Politécnico de Leiria e ex-presidente da Associação Portuguesa de Ultimate e Desportos de Disco, “são 103 países que já fazem parte da Federação Mundial de desportos de disco”.
A modalidade está em expansão em países como a Croácia, onde o modelo de jogo vai ser implementado. Também a China está a dar os primeiros passos. O professor elaborou o “Manual Ultimate e Desportos de Disco nas Escolas” que está em tradução em França, assim como na República Checa.
Em Cabo Verde, José Amoroso desenvolveu uma campanha de formação de professores e distribuição gratuita de 1.200 discos para escolas.
“No Brasil estamos a pensar fazer uma competição Pan-Americana que englobe também a Colômbia e a Argentina”, revelou José Amoroso.
A pouco e pouco, mais discos vão sendo vistos nos céus de Portugal. O Ultimate Frisbee vai crescendo, devagarinho.