Centenas de pessoas manifestaram-se esta sexta-feira em Coimbra contra o partido Chega, que realiza na cidade o seu congresso, gritando que "chegou a hora de os fascistas irem embora".
Munidas de tambores, bandeiras, tarjas e cartazes, centenas de pessoas concentraram-se ao final da tarde na Praça 8 de Maio, na Baixa de Coimbra, onde estava inicialmente previsto o final da marcha do Chega.
"Já ninguém atura o facho do Ventura", "Coimbra! Antifascista!" e "Fascistas, fascistas, chegou a vossa hora; os imigrantes ficam e vocês vão embora", foram algumas das palavras de ordem dos manifestantes, que tentaram ir ao encontro da marcha do Chega, que foi desviada para a Praça Heróis do Ultramar, mas acabaram impedidos por um forte aparato policial.
Depois de mais de uma hora de cânticos na Praça 8 de Maio, a organização lançou uma pergunta: "Querem ir ter com ele?".
"Sim", responderam em uníssono os manifestantes.
No entanto, a PSP impediu a manifestação de avançar de imediato.
Após alguma espera, os manifestantes prosseguiram pela Avenida Sá da Bandeira, em direção à marcha do Chega, que partiria da Universidade de Coimbra, mas, chegados à Praça da República, foram confrontados com um bloqueio de todas as vias de acesso por parte das forças policiais.
Ainda tentaram contornar os polícias, pelo Jardim da Sereia, mas sem sucesso.
De volta à Praça da República e apercebendo-se da desmobilização dos cordões policiais que bloqueavam as vias, a manifestação prosseguiu, em passo rápido, pela Rua Oliveira Matos, em direção à Rotunda do Papa.
No caminho, os manifestantes cruzaram-se com quatro simpatizantes do Chega, ouvindo-se apupos e gritos.
Quando um dos simpatizantes ergueu a bandeira do partido de extrema-direita, um jovem correu e retirou-lhe a bandeira, tendo depois sido agredido, por engano, por outro participante da manifestação antifascista.
Chegados à Rotunda do Papa, já um cordão da PSP se formava para impedir o avanço em direção à Praça Heróis do Ultramar e a manifestação acabou desmobilizada pouco depois.
Para Mariana Riquito, da organização da manifestação, houve alguma "frustração" pelo aparato policial que "interrompeu" o protesto.
"Por outro lado, fico contente por termos conseguido ocupar a Praça [8 de Maio] e eles não terem conseguido entrar e discursar no túmulo do D. Afonso Henriques, que era o objetivo deles. [..] Foi uma vitória nesse sentido. A frustração vem de percebermos que o aparato policial mobilizou-se contra um grupo de contramanifestantes que tem o direito legal de se manifestar", afirmou.
Questionada pela agência Lusa sobre o porquê de quererem chegar à marcha do partido de André Ventura, a jovem de 23 anos frisou que é importante marcar presença na rua, quando há "uma carrada de pessoas de extrema-direita, xenófobas, autoritárias, racistas, machistas".
Presente na manifestação, Tiago Calado, estudante de 22 anos, empunhava um pau com uma cabeça de burro, que "representa o outro lado da barricada".
"Estou aqui pela liberdade de expressão, pela liberdade individual, contra qualquer repressão. Preocupa-me esta tendência que temos vindo a ver [de crescimento da extrema-direita] e é preciso lutar contra este fundo de silêncio", disse à agência Lusa o estudante.
Já Camila, de 32 anos, salientou que conhece muito bem o resultado do fascismo no seu país de origem, o Brasil, por causa da eleição de Bolsonaro.
"Contra os fascistas, sempre", frisou Camila, com o filho nos seus ombros.
Miguel Corte Real, de 57 anos, recordou que Portugal tem "um passado de 48 anos" de ditadura do qual os portugueses devem ter vergonha e devem lutar para não voltar a esse regime.
"Não é possível ser-se neutro. Eu estou aqui e estar aqui não é ser radical, é ser-se democrata", sublinhou.
[Notícia atualizada às 22h09]