A maioria dos inquiridos para um estudo sobre oncologia considera que são exigidas “demasiadas burocracias” a estes doentes para acederem aos seus direitos e que a luta contra o cancro não é uma prioridade para os políticos em Portugal.
Promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), o inquérito “Cuidados de Saúde em Oncologia: a visão dos doentes” foi realizado para “analisar a percepção dos doentes e sobreviventes de doença oncológica sobre os cuidados de saúde em oncologia”, tendo contado com 333 respostas de doentes ou com antecedentes de doença oncológica.
O inquérito visou sinalizar as maiores preocupações em relação à doença e avaliar o impacto da doença no dia-a-dia do doente, entre outros aspectos.
De acordo com as respostas aos inquéritos, 56% sentem que lhes são exigidas demasiadas burocracias para ter acesso aos direitos que lhe estão consagrados por lei.
Ainda na matéria do acesso, 64% disseram que preferem consultar o médico, em caso de dúvidas sobre doença e tratamento, com apenas três por cento a recorrem a associações de doentes, folhetos informativos e linhas de apoio com tal objetivo.
O inquérito revelou que 60% dos doentes oncológicos auscultados tiveram a primeira suspeita que podiam ter cancro após ter sentido alguns sintomas e que oito por cento tiveram a primeira suspeita no seguimento de um rastreio.
Em relação às preocupações com esta doença, a morte surge como a principal apreensão, com 32% a citá-la em primeiro lugar, seguindo-se o impacto físico e, em último, o embate financeiro.
No dia-a-dia do doente, os efeitos psicológicos foram o maior impacto da doença, com um aumento dos níveis de ansiedade e humor registado em 68% dos doentes, enquanto 60% elegeu o nível físico, com redução da mobilidade, náuseas e fadiga.
Para 59%, esse impacto foi maior no desempenho profissional e na capacidade de trabalho.
Entre os factores que estes doentes mais valorizam, em primeiro lugar aparece a satisfação com a equipa médica (42%), seguindo-se a eficácia (43%), a segurança (39%) e a inexistência de efeitos secundários (37%) no tratamento.
Na consulta, 41% enaltecem a clareza na comunicação e no esclarecimento da informação e 20% atenção.
A maioria dos inquiridos concorda que “existe a ideia, entre a população portuguesa, que os doentes oncológicos não têm acesso aos tratamentos mais avançados, porque estes são demasiados caros”. De uma forma geral também estão acordo que, em Portugal, “existem demasiadas assimetrias regionais no que diz respeito à prevenção e tratamento do cancro”.
Para 59% dos inquiridos, falta implementar em Portugal um programa de rastreios organizados de âmbito nacional.
Dos inquiridos, 71% considera que a luta contra o cancro não é uma prioridade para a classe política em Portugal e, para 60%, o governo não faz o investimento necessário para que os doentes tenham acesso às terapêuticas mais avançadas e eficazes.