A presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, Paula Margarido, falou coma Renascença sobre o encontro que o Papa manteve, na quinta-feira, com vítimas de abusos, destacando que as vítimas se sentiram "reconfortdas e reparadas"
"O Papa Francisco não falou muito, mas, acima de tudo, demonstrou-lhes proximidade, afeto e colocou o coração dele no sofrimento de cada uma delas. Colocou o seu coração, a sua pessoa na dor de cada uma delas, como que dizendo: 'eu sei que vocês sofreram, eu sei que esta Igreja foi de facto uma Igreja com um rosto desfigurado para cada um de vós, mas, por favor, não desistam, eu estou aqui estou ao vosso lado'”, referiu Paula Margarido, que participou no encontro do Papa com 13 vítimas de abusos sexuais, por membros do clero, que decorreu na Nunciatura Apostólica.
Paula Margarido sublinha que “foram os seus gestos, as suas atitudes, a sua forma de apertar a cruz peitoral enquanto ouvia cada testemunho que, no fundo, transmitiu” os sentimentos do Papa.
Nestas declarações à Renascença, a responsável revela também que no final da reunião Francisco pediu aos presentes que rezassem por ele. Nessa ocasião, o pedopsiquiatra Pedro Strecht sugeriu que todos pudessem rezar um Pai Nosso com o Papa. “E fizemos isso todos juntos. Todos os que estávamos naquela sala - nós e as vítimas - rezamos um Pai Nosso com Sua Santidade”, relata.
"Quando alguém está a dar conta de uma desgraça, de uma profunda dor” faltam as palavras, diz Paula Margarido, adiantando que no encontro sobressaíram “os gestos e os sentimentos” do Papa. “As pessoas sentiram-se profundamente reparadas", insiste.
De acordo com a presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, esse sentimento de reparação ficou bem vincado no que algumas vítimas disseram no final do encontro e já noutro local. “Uma delas disse: ´parece que passou um camião por nós, mas estamos tão aliviados'. Outra dizia: 'até aqui parecia que ninguém acreditava em nós e Sua Santidade ouviu-nos escutou-nos e acreditou em nós'. Também ouvi a outra: 'por favor, não permitam que isto volte a acontecer'", revela.
Para Paula Margarido, há essa "preocupação do Papa" não irá "cair no vazio”, pois “é uma chamada de atenção, é uma consciencialização de que na verdade estes abusos praticados em idades tão precoces podem matar a alma de um ser humano que está em crescimento”.
A responsável afirma que “o Papa tem essa consciência profunda e ao abordar novamente esta temática logo no primeiro dia da sua presença em Portugal”, ajuda “também a nós, Igreja, a perceber que nada pode voltar a ser como era dantes”.
“É um novo caminho, é uma nova fase que se inicia. E que bom foi o Papa ter recebido logo neste primeiro dia da sua visita a Portugal estas vítimas que se sentiram tão reconfortadas e reparadas”, remata.
Na noite de quarta-feira, na Nunciatura Apostólica, Francisco recebeu 13 pessoas acompanhadas por alguns representantes das instituições eclesiásticas locais encarregadas da tutela dos menores.
Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA; Paula Margarido, presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas; Pedro Strecht, coordenador da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças, que apresentou o seu relatório final em fevereiro, também estiveram no encontro.