O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, lançou o debate de forma incisiva: “Hoje é muito evidente que quem comprar um carro [de motor] diesel, muito provavelmente, daqui a quatro ou cinco anos não vai ter grande valor na sua troca”. As reações não se fizeram esperar. A Associação Automóvel de Portugal considera as declarações graves e fala de manipulação do mercado.
A polémica começou no domingo passado, com a entrevista do governante ao "Jornal de Negócios" e à Antena1 em que, além de citar a desvalorização das viaturas a diesel, Matos Fernandes avançou que, “na próxima década, não vai fazer sentido comprar um carro a gasóleo” porque os valores de aquisição de um carro elétrico vão baixar.
A ACAP (Associação Automóvel de Portugal) em declarações à Renascença diz que as afirmações do ministro estão a causar apreensão no setor, com vários concessionários a serem contactados por clientes com dúvidas.
Hélder Barata Pedro assegura que as declarações de Matos Fernandes "não correspondem à verdade do que é o mercado automóvel em Portugal e na Europa" e lembra que na "União Europeia existe legislação especifica sobre esta questão com novos níveis de emissões para os motores novos".
Manipular o mercado
A ACAP afirma que o diesel "irá continuar a ser uma opção do consumidor", embora "venha a perder percentagem face aos veículos elétricos".
Hélder Barata Pedro acusa, por isso, o ministro de causar apreensão e de tentar influenciar o mercado: “São declarações graves e que têm como objetivo condicionar o mercado”, afirma.
Ainda assim, a ACAP espera que as declarações do ministro Matos Fernandes não venham a ter um impacto particular nas vendas.
Ora, quem é detentor de uma viatura a diesel quer saber, afinal, quando é que este tipo de veículo irá desaparecer do mercado. Hélder Barata Pedro não tem uma resposta assertiva.
“Neste momento, ninguém na Europa está em condições de dizer como vai ser”, garante Hélder Barata Pedro que contudo garante que o “diesel é uma tecnologia que continuará a fazer parte da industrial automóvel nos próximos anos”.
Mudança brusca? Nada o faz prever
A Renascença ouviu também a Nissan, que faz da mobilidade elétrica uma aposta forte da marca nipónica.
“Nós somos líderes na mobilidade elétrica, para nós é o futuro”, começa por afirmar António Pereira Joaquim, relações públicas da Nissan.
“A transição será sempre gradual, não existe nenhuma disrupção prevista de que os carros a gasóleo deixem de ter valor”, explica.
Pereira Joaquim não define, no entanto, as declarações do ministro do Ambiente, como “alarmistas”. Mas sublinha que “o mercado dos veículos a gasóleo está a decair rapidamente, ao mesmo tempo que o mercado de gasolina e dos 100% elétricos estão a subir”, refere.
A mesma fonte diz que a velocidade da transição entre formas de mobilidade dependerá, sobretudo, de dois fatores: os preços dos carros elétricos e as leis que os governos forem aprovando.
Mas conclui que “nada nos faz prever que seja em meia dúzia de anos”.
Uma discussão em toda a Europa
Por outro lado, o ambientalista Francisco Ferreira, dirigente da Zero, afirma que “não temos dúvidas de que os veículos gasóleo no interior das cidades são a causa da ultrapassagem dos valores limite de dióxido de azoto”.
Francisco Ferreira fala ainda do aumento das condicionantes europeias para a circulação de carros a gasóleo e as restrições que poderão vir a ter nos centros urbanos de Portugal.
“O debate sobre os carros a gasóleo e a sua desvalorização é algo que a Europa toda está a discutir, e Portugal é dos países em que a sua percentagem é maior, mas está a descer”, conclui.
Os carros elétricos em Portugal valeram 1,8% do total de vendas do ano passado, apesar do crescimento que se tem verificado. Até ao final do ano passado, as vendas dos carros a gasóleo caíram quase 10%, em relação ao mesmo período de 2017.