É portuguesa uma das maiores comunidades de imigrantes em França. No entanto, tiveram escassa repercussão na nossa comunicação social as recentes eleições locais e regionais francesas. Foram eleições em duas voltas, como é habitual naquele país; na primeira volta ganha quem tiver mais de 50% dos votos; não havendo vencedor à primeira volta, passam para a segunda volta os dois mais votados.
Ora o partido anti-europeu e anti-imigracão de Marine Le Pen teve uma clamorosa derrota nestas eleições. Perdeu até na região da Provença-Alpes-Costa Azul, onde se inclui Marselha, não conseguindo ganhar em qualquer eleição local ou regional. Na primeira volta o candidato de Le Pen naquela eleição, Thierry Mariani, tinha sido o mais votado na região, mas ficou-se pelos 36%; mas na segunda volta a esquerda apoiou o candidato de centro-direita, Renaud Muselier, que assim venceu na segunda volta, com 56%, contra 44% para T. Mariani.
O sistema francês de eleições em duas voltas (caso ninguém obtenha mais de 50% dos votos na primeira volta) é, como se vê, útil para travar candidatos extremistas.
Por outro lado, o partido de Macron, presidente da República, voltou a mostrar grande debilidade – parece só contar na zona de Paris. Este partido foi ultrapassado por candidatos de centro-direita, que poderão passar à segunda volta nas eleições presidenciais do próximo ano. Ou seja, nessas eleições o duelo final e decisivo, na segunda volta, afinal talvez não seja entre Macron e Marine Le Pen.
Macron surgiu como um furacão na alta política francesa em 2017. Ganhou as eleições presidenciais desse ano e fundou um novo partido, o “Em marcha”, que obteve uma confortável maioria absoluta parlamentar nas eleições legislativas, um mês após as presidenciais.
Mas nos últimos tempos Macron tem vindo a perder apoiantes e até colaboradores próximos. Enfrentou o movimento hostil espontâneo dos “coletes amarelos” em 2018-2019, mas parece não ter recuperado o “élan” que o levou ao Eliseu, palácio onde residem os Presidentes de França.
Estas eleições locais e regionais em França ficaram também marcadas por um dado muito negativo: uma enorme abstenção, tendo nelas votado apenas cerca de um terço dos eleitores. O afastamento da política por parte dos franceses terá que ser combatido pelos políticos do país. Se não tiverem êxito nesse combate, a democracia francesa ficará abalada – o que só poderá interessar aos não democratas.