Paul Polman, um líder inspirador
02-10-2023 - 06:00
 • Nuno Moreira da Cruz

Ex-CEO de uma grande multinacional, Polman fez sempre questão de enfatizar a necessidade de as empresas irem além das considerações de lucro de curto prazo e se concentrarem na sustentabilidade de longo prazo

Paul Polman, ex-CEO da Unilever, é amplamente reconhecido pelos seus esforços na promoção de práticas de negócios sustentáveis e, durante o seu mandato na empresa, foi capaz de provar que as empresas podem ser lucrativas, enquanto lidam com as dimensões ambiental e social da sustentabilidade.

Hoje, esta realidade está a tornar-se cada vez mais clara, mas, em 2010, quando anunciou o Unilever Sustainable Living Plan (uma iniciativa ambiciosa que visava reduzir a pegada ambiental da empresa e aumentar o seu impacto social), esse movimento era tudo menos óbvio.

O plano incluía metas como a redução do impacto ambiental dos produtos da Unilever, a melhoria dos meios de subsistência dos pequenos agricultores e a promoção de práticas laborais justas em toda a cadeia de abastecimento.

Sob a liderança de Paul Polman, a Unilever tornou-se uma organização defensora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e, nas suas múltiplas declarações publicas, sempre enfatizou a importância de as empresas desempenharem um papel nos desafios globais, como a pobreza, a desigualdade ou as mudanças climáticas.

Para além disso, o ex-CEO da Unilever tem posto o tema da ação climática como algo verdadeiramente prioritário e instou as empresas a assumirem um papel de liderança no combate às alterações climáticas. Fez sempre questão de enfatizar a necessidade de as empresas irem além das considerações de lucro de curto prazo e se concentrarem na sustentabilidade de longo prazo (que obviamente inclui a económica). Também o vimos muitas vezes defender práticas empresariais éticas, transparentes e governance corporativa responsável.

Neste contexto, Polman foi capaz ao longo da última década de inspirar muitos líderes a tornarem-se mais conscientes da necessidade de agir responsavelmente.

Com tudo isto em mente, é facilmente compreensível o privilégio que sentimos no Centro ao entrevistá-lo recentemente. Eis algumas das declarações que fez durante a conversa:

Sobre o contexto em que vivemos:

  • Já ultrapassámos várias fronteiras planetárias para uma vida segura e caminhamos para a extinção da espécie humana;
  • No passado, a Mãe Natureza foi capaz de compensar as nossas deficiências. Isso já não é possível;
  • As empresas não podem ter sucesso em sociedades que falham.

Sobre as empresas e os mercados:

  • A principal barreira é a visão de curto prazo, o foco excessivo no aqui e agora. Nos próximos 6 a 7 anos, veremos uma grande mudança nas empresas, de meros posicionamentos táticos para visões claramente estratégicas;
  • Ainda existe espaço para criar vantagem competitiva. Os standards exigidos para a sustentabilidade subiram e a maioria das grandes empresas tem a sua “higiene básica” feita. Mas ainda há muito espaço para competir acima desse patamar mínimo. Aqueles que se movam de forma rápida, transparente e construam relações de confiança com os consumidores nestes temas liderarão o caminho;
  • Há que liderar, melhor levantar pó do que levar com ele;
  • Necessidade de desenvolver parcerias. Competir é importante, mas quando é o futuro da Humanidade que está em jogo precisamos de colaborar.

Sobre a liderança:

  • O egoísmo e a ganância são as fontes de todos os problemas. Precisamos de uma melhor liderança, de líderes corajosos, daqueles que abraçam a ciência e assumem a responsabilidade pelo impacto total, estabelecendo metas claras;
  • Faltam-nos árvores, mas também…grandes líderes;
  • Os CEOs precisam de se concentrar no modelo de governance e garantir que ele se concentra no longo prazo. Comecem por desenvolver os incentivos e métricas de longo prazo certos;
  • Procurar ativamente os acionistas certos! Na Unilever abolimos as analises trimestrais de performance e desenhámos uma compensação virada para incentivos de longo prazo. Ao fazê-lo, conseguimos atrair um tipo diferente de acionistas: aqueles que realmente pensam estrategicamente e se concentram no longo prazo.

Paul Polman é um exemplo de liderança inspiradora e visionária. Conversar com ele faz com que se acredite verdadeiramente que o lucro, o planeta e as pessoas podem e devem viver em perfeita harmonia.


Nuno Moreira da Cruz é diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica Lisbon School of Business & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics