Paul Polman, ex-CEO da Unilever, é amplamente reconhecido pelos seus esforços na promoção de práticas de negócios sustentáveis e, durante o seu mandato na empresa, foi capaz de provar que as empresas podem ser lucrativas, enquanto lidam com as dimensões ambiental e social da sustentabilidade.
Hoje, esta realidade está a tornar-se cada vez mais clara, mas, em 2010, quando anunciou o Unilever Sustainable Living Plan (uma iniciativa ambiciosa que visava reduzir a pegada ambiental da empresa e aumentar o seu impacto social), esse movimento era tudo menos óbvio.
O plano incluía metas como a redução do impacto ambiental dos produtos da Unilever, a melhoria dos meios de subsistência dos pequenos agricultores e a promoção de práticas laborais justas em toda a cadeia de abastecimento.
Sob a liderança de Paul Polman, a Unilever tornou-se uma organização defensora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e, nas suas múltiplas declarações publicas, sempre enfatizou a importância de as empresas desempenharem um papel nos desafios globais, como a pobreza, a desigualdade ou as mudanças climáticas.
Para além disso, o ex-CEO da Unilever tem posto o tema da ação climática como algo verdadeiramente prioritário e instou as empresas a assumirem um papel de liderança no combate às alterações climáticas. Fez sempre questão de enfatizar a necessidade de as empresas irem além das considerações de lucro de curto prazo e se concentrarem na sustentabilidade de longo prazo (que obviamente inclui a económica). Também o vimos muitas vezes defender práticas empresariais éticas, transparentes e governance corporativa responsável.
Neste contexto, Polman foi capaz ao longo da última década de inspirar muitos líderes a tornarem-se mais conscientes da necessidade de agir responsavelmente.
Com tudo isto em mente, é facilmente compreensível o privilégio que sentimos no Centro ao entrevistá-lo recentemente. Eis algumas das declarações que fez durante a conversa:
Sobre o contexto em que vivemos:
- Já ultrapassámos várias fronteiras planetárias para uma vida segura e caminhamos para a extinção da espécie humana;
- No passado, a Mãe Natureza foi capaz de compensar as nossas deficiências. Isso já não é possível;
- As empresas não podem ter sucesso em sociedades que falham.
Sobre as empresas e os mercados:
- A principal barreira é a visão de curto prazo, o foco excessivo no aqui e agora. Nos próximos 6 a 7 anos, veremos uma grande mudança nas empresas, de meros posicionamentos táticos para visões claramente estratégicas;
- Ainda existe espaço para criar vantagem competitiva. Os standards exigidos para a sustentabilidade subiram e a maioria das grandes empresas tem a sua “higiene básica” feita. Mas ainda há muito espaço para competir acima desse patamar mínimo. Aqueles que se movam de forma rápida, transparente e construam relações de confiança com os consumidores nestes temas liderarão o caminho;
- Há que liderar, melhor levantar pó do que levar com ele;
- Necessidade de desenvolver parcerias. Competir é importante, mas quando é o futuro da Humanidade que está em jogo precisamos de colaborar.
Sobre a liderança:
- O egoísmo e a ganância são as fontes de todos os problemas. Precisamos de uma melhor liderança, de líderes corajosos, daqueles que abraçam a ciência e assumem a responsabilidade pelo impacto total, estabelecendo metas claras;
- Faltam-nos árvores, mas também…grandes líderes;
- Os CEOs precisam de se concentrar no modelo de governance e garantir que ele se concentra no longo prazo. Comecem por desenvolver os incentivos e métricas de longo prazo certos;
- Procurar ativamente os acionistas certos! Na Unilever abolimos as analises trimestrais de performance e desenhámos uma compensação virada para incentivos de longo prazo. Ao fazê-lo, conseguimos atrair um tipo diferente de acionistas: aqueles que realmente pensam estrategicamente e se concentram no longo prazo.
Paul Polman é um exemplo de liderança inspiradora e visionária. Conversar com ele faz com que se acredite verdadeiramente que o lucro, o planeta e as pessoas podem e devem viver em perfeita harmonia.
Nuno Moreira da Cruz é diretor executivo do Center for Responsible Business & Leadership da Católica Lisbon School of Business & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics