O candidato a presidente do governo catalão, Quim Torra, indicou o independentista Carles Puigdemont como o presidente "legítimo", prometeu uma proposta de 'constituição' da Catalunha e 'estendeu a mão' a Madrid para um diálogo visando ultrapassar o atual conflito.
Na cerimónia que marca o início do seu processo de investidura, Quim Torra, do mesmo partido de Carles Puigdemont, indicou que é este o presidente "legítimo" do governo regional da Catalunha e prometeu ser "leal ao mandato" para "construir um Estado independente em forma de república".
O candidato disponibilizou a sua "mão estendida" ao executivo de Mariano Rajoy, o chefe do Governo espanhol, para iniciar um diálogo que permita resolver o conflito "de governo para governo" e referiu-se ao papel do rei Felipe VI na crise na Catalunha dizendo: "Majestade, assim não".
Quim Torra falou em inglês para dirigir-se ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e pedir diálogo e mediação a fim de se "encontrar uma solução política" para a Catalunha.
O político prometeu "restabelecer, consolidar e ampliar" a rede de delegações do governo regional para promover uma "política externa ativa que dê voz própria à Catalunha" e continuar a internacionalização do caso catalão.
Quim Torra advertiu que as forças independentistas "vão persistir, insistir e investir" em Carles Puigdemont no futuro, clarificando que o seu governo assume, desde agora, "toda a responsabilidade" pelos seus atos. Recordou ainda todos os "presos políticos e os exilados", numa referência a antigos membros do governo catalão liderado por Puigdemont, salientando que "deveria ser Puidgemont a fazer este discurso e deverá ser ele, logo que possível, a fazê-lo", apesar de Espanha "mover todos os seus tentáculos para o evitar num frenético caminho para o abismo da repressão".
O dirigente catalão manifestou a sua "adesão" aos princípios e valores europeus.
"A plenitude nacional do nosso país está ligada aos valores europeus. Não há projeto europeu sem a Catalunha, nem Catalunha sem a Europa", defendeu Quim Torra.
Através da rede social Twitter, a partir de Berlim, onde se encontra, Carles Puigdemont considerou o discurso de Torra "brilhante" e "imbatível", com passagens que "dão toda a dimensão histórica que exige o momento excecional que vive a Catalunha".
Já Mariano Rajoy salientou, em declarações a jornalistas, que embora aguarde para avaliar o desempenho de Quim Torra, não gostou do que viu e ouviu do discurso e garantiu que o Governo espanhol garantirá em qualquer o momento o cumprimento da lei.
Para o chefe do executivo de Espanha, o que disse Quim Torra não é representativo do que é a Catalunha, no entanto, escusou-se a fazer juízos de valor sobre o candidato.
Também em declarações aos jornalistas, o secretário-geral do PSOE (socialistas), Pedro Sánchez, pediu a Torra para começar uma legislatura autónoma respeitando a Constituição espanhola e para governar "para o conjunto dos catalães" e não só para os 47% que votaram pela independência.
A investidura de Torra deverá ficar concluída apenas na segunda-feira porque os partidos independentistas Juntos pela Catalunha e Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que o apoiam, não têm maioria absoluta no parlamento regional.
O terceiro partido separatista, a Candidatura de Unidade Popular (CUP), anunciou que se deverá abster, o que retira a maioria necessária a uma investidura na primeira volta.
Com a indicação de Quim Torra, os independentistas asseguram a nomeação de um apoiante da sua causa para a liderança do governo regional e evitam que sejam marcadas novas eleições, depois de terem ganhado as de 21 de dezembro de 2017.
O ex-presidente do governo catalão Carles Puigdemont fugiu à justiça espanhola e aguarda na Alemanha a sua extradição para Espanha, onde é acusado de delitos de rebelião e peculato na organização de um referendo ilegal sobre a autodeterminação da Catalunha, realizado em 1 de outubro de 2017, a que se seguiu uma declaração unilateral de independência no parlamento da região.