A pandemia fez esquecer as negociações entre o Reino Unido (RU) e a UE visando um acordo sobre as futuras relações comerciais entre as duas partes. Nesta semana haverá vários encontros entre britânicos e representantes da UE. E neste mês de junho reunirá um Conselho europeu para avaliar o andamento das negociações.
Ninguém está optimista. Pouco ou nada se avançou, até agora, em pontos como as pescas, o papel do Tribunal Europeu de Justiça na resolução de futuros diferendos ou a maneira de assegurar uma competição justa dos bens e serviços britânicos no mercado único europeu.
Numa questão se registou um pequeno avanço: o RU concordou que, ficando a Irlanda do Norte (Ulster) no mercado único europeu, ao contrário do resto do RU, terá de haver, no mar, controles alfandegários entre o Ulster e o restante território britânico. É, aliás, duvidoso que esta concessão seja aceite pela maioria conservadora na Câmara dos Comuns.
É possível que a premência do combate ao covid19 tenha distraído o primeiro-ministro Boris Johnson das negociações do Brexit. Mas antes do aparecimento da pandemia B. Johnson tinha dito que, se até junho não tivesse havido progressos significativos nas negociações, ele suspenderia a participação nelas do RU. O que, a concretizar-se, tornará inevitável uma saída do RU sem qualquer acordo comercial com a UE.
Como aqui disse mais do que uma vez, julgo que uma saída sem acordo é, na realidade, o objetivo não declarado do primeiro-ministro britânico. Que parece, até, considerar essa saída sem acordo sobre as futuras relações comerciais com a UE como a solução mais fiel ao resultado do referendo de 2016. Assim, o que agora preocupará os negociadores de ambos os lados será lançar as culpas do falhanço das negociações para o outro lado. Relações públicas, em suma.
A propósito do Brexit, o último número do semanário britânico, europeísta, “The Economist” insere um artigo onde se defende que a saída britânica da UE é benéfica para a Europa comunitária. É que, se o RU fosse um Estado membro da UE, estaria contra o programa de recuperação económica apresentado pela presidente da Comissão Europeia. O que daria outra força à resistência dos chamados países “frugais" (Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia) ao plano de recuperação da Comissão Europeia.
Acrescento, da minha parte, que tal hipótese, que não se concretiza, seria verosímil, dada a fidelidade de B. Johnson à memória de Margaret Thatcher. Quando chefiava o governo britânico, M. Thatcher exigiu, e conseguiu, obter um abatimento na contribuição britânica para o orçamento comunitário. Para esse fim, no Conselho Europeu M. T. agitava violentamente a sua malinha e gritava “I want my money back!” (quero o meu dinheiro de volta).