“Estamos a afogar o mundo” em produtos químicos que ameaçam saúde e reprodução
01-10-2015 - 13:15

Especialistas alertam para o papel dos pesticidas, poluentes do ar, plásticos, solventes em patologias como abortos, crescimento fetal, baixo peso ao nascer, danos cognitivos ou desenvolvimento neural, cancros do aparelho reprodutor, baixa quantidade de esperma e hiperactividade.

O forte aumento da exposição aos produtos químicos tóxicos nos últimos 40 anos ameaça a saúde e a reprodução humana, adverte uma organização internacional de profissionais de reprodução, que apelaram a uma maior protecção em relação a estes artigos.

"Estamos a afogar o mundo em produtos avaliados e perigosos e nós pagamos um preço alto", disse esta quinta-feira Gian Carlo Di Renzo, autor principal de um apelo lançado pela Federação Internacional de Ginecologistas e Obstetras (FIGO), uma organização sediada em Londres e que agrupa profissionais de 125 países.

O apelo, publicado na revista “Jornal Internacional de Ginecologia e Obstetrícia”, coloca em causa os produtos químicos como os pesticidas, os poluentes do ar, plásticos, solventes em patologias como abortos e perdas fetais, crescimento fetal, baixo peso ao nascer, defeitos de nascença, danos cognitivos ou desenvolvimento neural, cancros do aparelho reprodutor, baixa quantidade de esperma e hiperactividade entre as crianças.

Os autores do apelo mencionam, nomeadamente, as perturbações endocrinológicas, sublinhando que um dos efeitos da exposição a estas substâncias é "interromper as hormonas responsáveis de regular as funções reprodutivas e de desenvolvimento".

Políticas de protecção precisam-se

Os produtos que causam perturbações endocrinológicas estão presentes em numerosos produtos como embalagens, pesticidas, cosméticos, revestimentos e produtos de limpeza.

"A exposição química a estes tóxicos é permanente durante a gravidez e o aleitamento e ameaça a reprodução da espécie humana", indicou a federação no seu apelo, que reivindica "políticas de protecção para os pacientes e para as populações".

"O acumulo de evidências dos impactos dos produtos químicos tóxicos sobre a saúde, incluindo efeitos transgeracionais, faz a FIGO abordar uma série de recomendações aos profissionais de saúde para reduzir o impacto dos produtos químicos sobre a saúde dos pacientes e das populações", sublinhou o professore Sabaratnam Arulkumaran, presidente da FIGO e antigo presidente da Associação Médica Britânica.

Segundo a organização, os países em desenvolvimento devem registar um forte crescimento da produção de produtos químicos nos próximos cinco anos e as populações mais pobres deverão ser as primeiras a sofre os impactos.