A jornalista filipina Maria Ressa, covencedora do prémio Nobel da Paz deste ano, defendeu hoje que os meios de comunicação social no mundo deveriam unir forças na "luta pelos factos", em vez de competirem entre si.
"A era da competição pelas notícias está morta", disse Maria Ressa numa conferência de imprensa em Oslo, onde vai receber o prémio Nobel da Paz na sexta-feira, conjuntamente com o jornalista russo Dmitri Muratov.
"Penso que este é um momento em que estamos do mesmo lado a lutar por factos e vamos precisar de encontrar novas formas de colaboração, não só em cada um dos nossos países, mas também a nível global", disse Ressa, citada pela agência de notícias Associated Press (AP).
Falando numa conferência de imprensa conjunta, os dois jornalistas lamentaram que a liberdade de imprensa nas Filipinas e na Rússia permaneça sob a ameaça de uma "espada de Dâmocles", apesar de terem sido laureados com o prémio Nobel da Paz.
"Até agora, a liberdade de imprensa está sob ameaça. (...) É como ter uma espada de Dâmocles sobre a cabeça", disse Maria Ressa, citada pela agência France-Presse, quando questionada se o prémio tinha melhorado a situação no seu país.
As Filipinas ocupam o 138.º lugar no índice de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
A jornalista, de 58 anos, dirige o Rappler, um website altamente crítico do Presidente filipino, Rodrigo Duterte.
Ressa disse que foi difícil viajar para Oslo, referindo que teve de "conseguir a aprovação de quatro tribunais", devido a processos criminais que enfrenta nas Filipinas.
"Foi preciso muito para poder estar aqui hoje para responder às vossas perguntas", lamentou.
Em 2020, Ressa foi condenada a uma pena de prisão por calúnia, numa decisão considerada como um duro golpe para a liberdade de imprensa global.
Atualmente, aguarda um recurso da condenação, mas enfrenta outros sete processos judiciais.
Ressa mencionou o seu compatriota e antigo colega, Jess Malabanan, do jornal Manila Standard, que foi morto com um tiro na cabeça na quarta-feira.
Malabanan, que também era correspondente da Reuters, estava a trabalhar para a agência noticiosa sobre o tema sensível da guerra contra a droga nas Filipinas.
Trata-se do 22.º jornalista a ser morto desde que Rodrigo Duterte tomou posse, em meados de 2016.
Dmitri Muratov, 60 anos, que dirige o Novaya Gazeta, concordou com Maria Ressa.
"Se tivermos de nos tornar agentes de estrangeiros por causa do Prémio Nobel da Paz, não ficaremos aborrecidos", disse, citado pela AFP.
O estatuto de "agente estrangeiro" obriga os meios de comunicação social da Rússia a divulgar este estatuto em todas as suas publicações, textos, vídeos e mensagens nas redes sociais.
"Mas, de facto, (...) penso que não vamos conseguir esse rótulo. Em vez disso, enfrentamos outros riscos", acrescentou Muratov em russo, através de um intérprete.
Considerado o único jornal independente que resta na Rússia, o Novaya Gazeta é conhecido pelas suas investigações sobre corrupção e violações dos direitos humanos na Chechénia.
O prémio Nobel da Paz, anunciado em 08 de outubro, foi atribuído a Ressa e Muratov "pelos seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e uma paz duradoura", justificou na altura o comité.
Ressa e Muratov "são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas", acrescentou o comité.