O Papa decidiu instituir uma nova comissão de estudo sobre o diaconado feminino na Igreja Católica, sob a presidência do cardeal Giuseppe Petrocchi, arcebispo de Áquila (Itália), anunciou esta quarta-feira o Vaticano.
Entre os especialistas escolhidos pelo Papa está a a biblista francesa Anne-Marie Pelletier, primeira mulher a receber o ‘Prémio Ratzinger’, considerado o ‘Nobel’ da Teologia.
O decisão de reabrir a comissão que debateu a possibilidade de ordenação diaconal de mulheres tinha sido adiantada pelo próprio Francisco, a 26 de outubro de 2019, no final dos trabalhos do Sínodo especial para a Amazónia.
“Assumo o pedido de voltar a chamar a comissão ou talvez abri-la com novos membros, para estudar como existia, na Igreja primitiva, o diaconado feminino”, declarou, perante os bispos, missionários, religiosos e representantes de indígenas que participaram na assembleia.
Após a votação do documento final, o Papa disse que o Sínodo pediu “criatividade” para que seja possível encontrar “novos ministérios” para as comunidades católicas e indicou a vontade de trabalhar com a Congregação para a Doutrina da Fé (Santa Sé), para “ver até onde se pode chegar”.
No número 103 do documento final, aprovado com 30 votos contra e 137 favoráveis, sublinha-se que “as múltiplas consultas realizadas no espaço amazónico” destacam o “papel fundamental das mulheres religiosas e leigas na Igreja da Amazónia”, com os seus múltiplos serviços.
“Num grande número destas consultas, solicitou-se o diaconado permanente para a mulher”, pode ler-se.
Já em fevereiro deste ano, na sua nova exortação ‘Querida Amazónia’, Francisco defende a criação de novos “serviços e carismas femininos”, mas rejeita propostas que visem “clericalizar as mulheres”.
“A situação atual exige que estimulemos o aparecimento doutros serviços e carismas femininos que deem resposta às necessidades específicas dos povos amazónicos neste momento histórico”, refere o documento, que surge após a assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazónica”.
Francisco indica que as mulheres têm “um papel central nas comunidades amazónicas”, pelo que “deveriam poder ter acesso a funções e inclusive serviços eclesiais que não requeiram a ordem sacra [diaconado, presbiterado e episcopado] e permitam expressar melhor o seu lugar próprio”.
A primeira comissão para o estudo do diaconado feminino foi anunciada a 12 de maio de 2016, durante um encontro de Francisco com a União Internacional de Superioras Gerais (UISG) de institutos religiosos femininos.
Em maio de 2019, o Papa disse que a comissão tinha sido inconclusiva, descartando mudanças no futuro imediato.
“Não há certeza de que a sua (mulheres) fosse uma ordenação com a mesma forma e com o mesmo propósito que a ordenação masculina. Alguns dizem: há dúvidas. Vamos continuar a estudar. Mas até agora não se avança”, referiu, em declarações aos jornalistas durante o voo de regresso ao Vaticano, desde a Macedónia do Norte.
O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.
Segundo o Papa, não existem dúvidas de que havia diaconisas no começo do Cristianismo, mas a questão está em determinar se “era uma ordenação sacramental ou não”.
Os estudos mostram que estas primeiras diaconisas assistiam na liturgia batismal de mulheres, que era por imersão, e eram chamadas para casos de disputa matrimonial para avaliar eventuais maus-tratos, uma situação limitada a uma área geográfica, especialmente a Síria.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.
O diaconado exercido por candidatos ao sacerdócio só é concedido a homens solteiros.
Com origem grega, a palavra ‘diácono’ pode traduzir-se por servidor, e corresponde a alguém especialmente destinado na Igreja Católica às atividades caritativas, a anunciar a Bíblia e a exercer funções litúrgicas, como assistir o bispo e o padre nas missas, administrar o Batismo, presidir a casamentos e exéquias, entre outras funções.