Três dos principais fabricantes de automóveis alemães - Volkswagen, Daimler (empresa dona da Mercedes-Benz) e BMW - financiaram um estudo que testou os efeitos das emissões dos escapes de veículos a gasóleo em humanos e macacos.
O governo alemão já denunciou as experiências, afirmando que a exposição de humanos e macacos a fumos tóxicos "é inaceitável". A ministra alemã do Ambiente, Barbara Hendricks, classificou os testes como "abomináveis".
"Os testes em macacos ou até mesmo humanos não podem ser justificados de maneira ética", afirmou o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert.
Estas experiências são "absurdas e abomináveis", criticou o político social-democrata Stephan Weil, que é também membro do conselho de supervisão da Volkswagen. "O lóbi não pode ser uma desculpa para tais testes", disse Weil citado pela BBC.
Os políticos alemães referiam-se às experiências que sujeitaram humanos e macacos à exposição de gases do escape de veículos a gasóleo com o objectivo de mostrar que a nova tecnologia deste tipo de motores era mais limpa e menos nociva.
A notícia foi avançada pelo jornal "The New York Times" na semana passada e foi também retratada no documentário "Dirty Money", que começou a ser emitido na plataforma de "streaming" Netflix na sexta-feira.
O estudo foi encomendado ao Grupo Europeu de Pesquisa sobre Meio Ambiente e Saúde no Sector dos Transportes (conhecido pela sigla EUGT, o acrónimo em alemão) e financiado pelas três marcas alemãs. A investigação terá sido projectada após a denúncia de que os gases do escape deste tipo de combustível eram cancerígenos.
A pesquisa tinha por objectivo mostrar que a mais recente tecnologia dos veículos a gasóleo tinha resolvido o problema do excesso de emissões associadas a uma série de doenças pulmonares e culpado por dezenas de milhares de mortes prematuras, dados que constam de um relatório da Comissão Europeia.
Testes com humanos na Alemanha, com macacos nos EUA
As experiências dos testes de emissões de gases de escape de carros com motores a gasóleo decorreram durante um mês, num laboratório em Aachen, no oeste da Alemanha, segundo o jornal "Stuttgarter Zeitung".
Durante os testes, 19 homens e seis mulheres foram expostos a diferentes concentrações de emissões de dióxido de nitrogénio (um gás extremamente tóxico e irritante). Os testes com humanos terão acontecido em 2016.
A experiência com macacos foi levada a cabo num laboratório em Albuquerque, no Novo México, nos Estados Unidos, em 2014, segundo o "New York Times".
Dez macacos foram colocados em câmaras herméticas a ver desenhos animados enquanto inalavam os fumos do escape, primeiro, de uma carrinha Ford (modelo de 1999) e, depois, de um Volkswagen Beetle a gasóleo (modelo de 2012), fornecido pela marca. Os fabricantes queriam usar os resultados da experiência para provar que a nova tecnologia "diesel" era mais limpa e menos maligna que a anterior.
O carro usado na experiência foi um dos muitos veículos cujo "software" foi manipulado para dar resultados de emissões mais baixos do que eram na realidade, um escândalo revelado em 2015.
Os testes de emissões feitos com macacos foram agora revelados na sequência de um dos muitos processos legais contra a Volkswagen que decorrem nos tribunais dos Estados Unidos.
Novo capítulo no escândalo das emissões poluentes
As três construtoras alemãs já vieram a público condenar a realização do estudo, que, apesar de ter sido levado a cabo nos Estados Unidos, foi pedido pelo centro de investigação europeu (e financiado pelos três fabricantes alemães).
Organizações de defesa dos direitos dos animais, como a PETA, não poupam nas críticas à experiência com os macacos e pedem à Volkswagen o fim imediato dos testes com animais.
Ainda não foi possível apurar se os três fabricantes alemães tinham ou não conhecimento da utilização de humanos e macacos para a realização dos testes, segundo a agência Reuters.
As três marcas já comunicaram que está em curso uma investigação aprofundada aos estudos realizados pelo gabinete europeu que fechou portas no final do ano passado.
O grupo Volkswagen afirma, em comunicado, que "os testes feitos em animais contradizem os princípios éticos" da marca.
Na mesma linha, a Daimler afirmou também que "condena veementemente a experiência", que "viola os valores e princípios da marca".
Por seu lado, o grupo BMW "condena os estudos levados a cabo pelo EUGT" e reforça que "não realiza testes em animais".
[Notícia actualizada às 16h00]