As autoridades em Myanmar mataram pelo menos 89 pessoas este sábado, incluindo crianças, em mais um dia de protestos pelo país contra o golpe de Estado. A Organização das Nações Unidas já reagiu ao derrame de sangue, dizendo-se "chocada" com a repressão militar contra os manifestantes pró-democracia.
Os protestos deste sábado foram convocados para o Dia das Forças Armadas. O número de mortos foi recolhido por Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP, na sigla em inglês), já ao final do dia, que dá conta de pelo menos 89 mortes.
À AFP, a Alta Comissariada das ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasan, disse que a organização "ainda não foi capazes de confirmar esta informação de maneira independente, mas recebemos vários relatórios credíveis de muitas partes do país - pelo menos 40 locais diferentes – que relatam que unidades policiais e militares responderam a manifestações pacíficas com força letal".
Segundo a Alta Comissária, "até agora, o número de mortos aumentou para 83-91 pessoas mortas e há centenas de feridos. Há quatro relatos de crianças que foram mortas, incluindo pelo menos um bebé".
Antes, numa declaração no seu Twitter, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, referiu estar "chocada" com a violência e com as “prisões em massa”. "Recebemos relatos de dezenas de mortes, incluindo crianças, centenas de feridos em 40 localidades e prisões em massa. Essa violência agrava a ilegitimidade do golpe e a culpabilidade de seus líderes", refere.
Um gigantesco desfile militar é organizado todos os anos no Dia das Forças Armadas em frente ao chefe do exército, agora chefe da junta governante, o general Min Aung Hlaing.
A violência explodiu quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes. Essa "violência torna o golpe ainda mais ilegítimo e agrava a culpabilidade de seus líderes", escreveu no Twitter a porta-voz da ONU Ravina Shamdasani.
Também a embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) na Birmânia, a União Europeia e a Grã-Bretanha já tinham condenado este sábado a junta militar governante por "matar civis desarmados", num dia em que a repressão a novos protestos pró-democracia no país deixou pelo menos 91 mortos.
Este é o dia com mais mortes desde o golpe de 1 de fevereiro liderado pelo chefe do Exército e da junta militar, Min Aung Hlaing, que hoje presidiu a um desfile militar por ocasião do Dia das Forças Armadas na capital, Naipiyidó.
De acordo com a contagem do Myanmar Now, as mortes ocorreram durante manifestações em cerca de 40 cidades em regiões e estados como Rangoon, Mandalay, Sagaing, Bago, Magwe, Tanintharyi e Kachin.
O número total de mortos, que até sexta-feira era de pelo menos 328, ultrapassa agora os 400.
Apesar da repressão com gás lacrimogéneo, borracha e munições reais, milhares de birmaneses desafiaram mais uma vez os militares e a polícia, inclusive em situações que puderam ser seguidas quase ao vivo nas redes sociais.
Os soldados e a polícia cumpriram a ameaça que a televisão e a rádio estatais transmitiram na sexta-feira - a de que atirariam nas costas e na cabeça dos manifestantes. A maioria dos mortos nas manifestações desde o início de fevereiro foi atingida com tiros, muitos deles na cabeça.
Enquanto Min Aung Hlaing presidiu ao desfile em Naipyidó, para comemorar o Dia das Forças Armadas, muitos manifestantes falavam em "dia contra a ditadura militar" e "dia da desgraça". O general referiu que sua missão é "defender a democracia" e prometeu realizar eleições sem especificar uma data específica.
Desde o golpe de Estado militar que se repetem nas ruas birmanesas as manifestações de protesto, ações que têm sido marcadas pela violência policial e do exército. "Chegou novamente o momento de combater a opressão militar", declarou um dos líderes dos protestos, Ei Thinzar Maung, na rede social Facebook.
No dia 1 de fevereiro, os generais birmaneses tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro e contestando a vitória de Aung San Suu Kyi. Desde o golpe de Estado repetem-se as manifestações de protesto marcadas pela violência policial e do exército.
De acordo com a AAPP, mais de 2.800 pessoas, incluindo políticos, estudantes e monges, foram detidas na sequência do golpe de Estado.