Forte e estável. Pedro Nuno Santos usou as duas palavras várias vezes para dizer aquilo que, no seu entender, o país precisa quando se fala de governação. "O país precisa de um governo estável, o PS não tem uma maioria para apresentar." De resto, nesta terça-feira depois da audição no Palácio de Belém com Marcelo Rebelo de Sousa, deixou claro que nada mudou da noite eleitoral para cá e, portanto, o PS "será oposição".
O líder do PS aproveitou ainda para deixar o caminho traçado para Luís Montenegro que, quarta-feira, terá o seu encontro com Marcelo: a AD deve apresentar um executivo sólido e o PS não irá impedir um orçamento retificativo, se essa for a vontade do novo Governo.
O Presidente da República tem recebido os partidos que elegeram deputados nas legislativas nos últimos dias, e este foi o encontro mais longo até agora: cerca de duas horas. Pedro Nuno Santos surgiu em Belém na companhia do presidente do PS, Carlos César, e de Alexandra Leitão, membro do Secretariado Nacional socialista que elaborou o programa eleitoral do partido. Uma reunião com Marcelo Rebelo de Sousa que é descrita à Renascença como tendo sido "10 minutos de observação e 110 de boa conversa".
Nas declarações aos jornalistas após a audiência, Pedro Nuno Santos reiterou que "o PS não tem solução de Governo para apresentar", adiantando que, no entanto, os socialistas estão disponíveis para "entendimentos" com a coligação que vai governar o país, incluindo para viabilizar um orçamento retificativo.
Pedro Nuno Santos antecipa-se, assim, à reunião de Marcelo Rebelo de Sousa com Luís Montenegro, que acontece esta quarta-feira, e abre a porta a uma "solução" que permita que "até ao Verão" sejam valorizadas diversas carreiras da Administração Pública.
Entre essas carreiras estão "os professores, as forças de segurança, os profissionais de saúde e não apenas os médicos e os oficiais de justiça", detalhou o líder do PS aos jornalistas em Belém, admitindo que "pode ser necessário alterar limites de despesa" para aumentar salários naquelas carreiras. Sendo assim, Pedro Nuno Santos diz-se disponível para "viabilizar um orçamento retificativo que esteja limitado àquelas matérias".
Mas não só. O secretário-geral do PS mostra disponibilidade para "participar na decisão da futura localização do aeroporto", colocando travão numa "indecisão de 50 anos que precisamos de uma vez por todas de resolver", conclui Pedro Nuno Santos, colocando o PS "disponível para ser parte" de uma solução. É um tema sensível para o ex-ministro das Infraestruturas que, no Governo de António Costa, viu revogado um despacho precisamente sobre o novo aeroporto.
O PS mantém a linha adotada na noite eleitoral de 10 de março e que torna "praticamente impossível" a viabilização de futuras propostas de Orçamento do Estado da futura maioria da AD, mas condiciona e antecipa-se desde já a Luís Montenegro sobre promessas que o próprio líder do PSD assumiu em campanha, nomeadamente, em relação à recuperação integral do tempo de serviço dos professores.
Pedro Nuno Santos anunciou ainda que se o futuro primeiro-ministro quiser, o PS irá indicar dois nomes que possam "num prazo de 30 dias, construir um acordo" que permita "encontrar uma solução até ao Verão", recusando, porém, dizer de quem se trata. O líder socialista tenta assim ser parte de várias soluções que permitam ao PS chegar às europeias de junho com resultados que cheguem ao bolso de determinados setores e eleitorado.
No momento em que a contagem de votos da emigração prossegue, e quando "não se vislumbra nenhuma diferença profunda" em relação aos resultados de 10 de março, o líder socialista sublinhou que chegou a Belém sem "uma maioria" que garanta estabilidade ao país.
"Aquilo que se espera é que o líder da coligação apresente uma solução de Governo estável", acrescentou, dizendo que essa solução deve ser "estável e forte", voltando a insistir na necessidade de estabilidade governativa.
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu as forças políticas por ordem crescente de representação, tendo começado pelo PAN, depois Livre, CDU, Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e Chega. Depois do PS, a Aliança Democrática será recebida na quarta-feira, dia em que se conhecem os resultados dos círculos da emigração.