A Câmara de Lisboa aprovou esta segunda-feira uma moção do Livre que condena alegadas violações de direitos humanos na organização do Mundial 2022 no Qatar e recomenda que os representantes do município “não aceitem convites” para se deslocarem ao país.
Na reunião pública do executivo camarário, o vereador do Livre, Carlos Teixeira, em substituição do eleito Rui Tavares, referiu que se estima que terão morrido “cerca de 6.750 trabalhadores” na organização do Mundial 2022 no Qatar, “embora o número real possa ser mais elevado uma vez que o Governo qatari não realiza autópsias aos trabalhadores migrantes, indicando que muitos terão falecido de ‘causas naturais’”.
“Além de já ser um reconhecido desastre humanitário, o torneio promete ser também um desastre ambiental”, alertou Carlos Teixeira, referindo que, apesar das promessas da FIFA de que este seria o primeiro Mundial neutro em carbono, o Qatar é um dos maiores países emissores de dióxido de carbono ‘per capita’, agravado pela construção de novos estádios, assim como novas cidades e meios de transporte.
A moção do Livre foi aprovada por pontos, tendo os primeiros dois sido aprovados por unanimidade, para que a Câmara Municipal de Lisboa “condene, com veemência, as violações de direitos humanos que ocorreram no Qatar, em particular as cometidas no âmbito da organização do Mundial 2022”, e utilize a publicidade institucional que tem ao seu dispor para realizar uma campanha publicitária positiva e inclusiva que apele ao fim do preconceito e discriminação na prática do desporto.
Outros dos pontos aprovados é para que o executivo “recomende a todos os representantes municipais eleitos para a Câmara Municipal de Lisboa que não aceitem convites para se deslocarem ao Qatar de modo a assistirem aos jogos de futebol”, ponto que foi viabilizado com abstenção dos dois vereadores do PCP e os votos a favor dos restantes eleitos, nomeadamente sete da liderança PSD/CDS-PP, cinco do PS, um do BE, um do Livre e um da independente do Cidadãos por Lisboa (eleita pela coligação PS/Livre).
Com igual votação, a câmara aprovou o envio de uma mensagem à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a instar a tomar uma posição pública contra o historial de violação de direitos humanos no Qatar, no âmbito da realização do Mundial 2022.
“O futebol é uma prática desportiva global que gera as paixões mais intensas e inspira sonhos em muitos jovens que procuram dedicar-se profissionalmente à prática. Associar este torneio a um país com um historial de graves violações de direitos humanos é permitir que fechemos os olhos ao racismo, à xenofobia, à discriminação e preconceito que tanto temos vindo a combater em Portugal e no seio da União Europeia”, lê-se na moção.
O Livre indicou ainda que, além das desigualdades de género, “as leis do Qatar são claras e apelam à total discriminação e violência contra a comunidade LGBTQI+”.