“Uma biblioteca e um arquivo são antídotos para a amnésia”, afirma D. José Tolentino de Mendonça. Entrevistado pelo portal da Santa Sé Vatican News, o cardeal português considera que “a Igreja é tanto mais vital quanto mais se dá conta da memória viva que palpita em si mesma e assegura a sua continuidade”.
O bibliotecário e arquivista do Papa sublinha a centralidade da dimensão da memória na vida da Igreja, uma vez que “esta baseia a própria existência na memória histórica e sacramental dos gestos e das palavras de Jesus”.
Por isso, a Biblioteca e o Arquivo Apostólicos não são meras instituições, têm uma vocação e missão específicas. “Uma das missões fundamentais da Biblioteca Apostólica, por exemplo, é conservar alguns dos testemunhos mais antigos da tradição manuscrita das Sagradas Escrituras. Só isto bastaria para a considerar o coração Igreja”, diz o cardeal português.
Tolentino recorda as palavras do Papa Francisco ao explicar que, na sua Biblioteca, “confluem dois grandes rios: a palavra de Deus e a palavra dos homens”, e confirma: “aqui, de facto, toca-se de perto o que significa catolicidade. Aqui, a catolicidade não é uma abstração; a catolicidade foi e é vivida pelos sucessores de Pedro como um abraçar tudo o que é humano, valorizando todas as culturas e formas de expressão”.
Deste modo, foi-se edificando “um monumental depósito do pensamento humano que se estende sobre um arco de séculos, desde a antiguidade até ao presente”. Uma universalidade espelhada também nos documentos do Arquivo Apostólico que, para o cardeal Tolentino, são “uma espécie de prolongamento dos livros dos Actos dos Apóstolos, porque narram a aventura do cristianismo no tempo e como o Espírito Santo conduz a Igreja”.
O guardião deste imenso tesouro da memória viva da Igreja revela ainda o impacto que, nestes anos, tem observado em tantos visitantes e especialistas que passam pela Biblioteca e Arquivo Apostólicos. “Quando entram nestes espaços e contemplam a imensidão e a qualidade do património aqui conservado, ficam sem palavras. Diria que o seu silêncio não é só silêncio. É algo semelhante aquele tremor que Blaise Pascal dizia ser provocado quando pensava o infinito”.