A embaixada da Turquia em Portugal apelou à solidariedade, e os portugueses responderam em força. Mas houve muitos doadores que não ficaram muito satisfeito com a recusa em aceitar a roupa oferecida em segunda-mão.
Em Lisboa, camiões e veículos de transporte perfilaram-se junto à embaixada turca para entregar os bens angariados. Todo o tipo de material tem sido aceite, à exceção de roupa usada - mesmo que em boas condições.
Uma professora de uma escola da capital (que pediu o anonimato) descreve que os bens como tendas, sacos-cama, cobertores, produtos de higiene e enlatados foram aceites pela embaixada.
"Só não ficou mesmo foi a roupa", desabafa.
"Havia roupa nova, mas estava dentro das caixas e nós não escrevemos se a roupa era nova ou não. Apenas escrevemos o que era roupa de criança, roupa de adulto, roupa de mulher, roupa de homem e então acabou por não ir, mas não conseguimos fazer essa triagem, de estar a abrir as caixas, portanto, roupa não ficou nada [para ser enviado para a Turquia]", diz.
Num dos primeiros apelos divulgados pela embaixada da Turquia, era pedido que os materiais fossem em primeira mão e adequados para condições de Inverno.
Um pedido que a escola desta professora confessa que não viu.
Ainda assim, mostra-se surpreendida. Defende que não faz sentido esta atitude da embaixada: "Eu entendo a falta de capacidade de triagem, a questão das doenças, mas se nós tivéssemos a consciência de que só aceitariam bens em primeira mão, nós não levaríamos bens que não fossem em primeira mão, independentemente de não nos fazer sentido. Não faz sentido de todo, não, não faz, mas, se fossem as regras, nós tínhamos de cumprir".
Mas este tipo de pedidos, em que se inclui a exigência de bens novos e etiquetados tem fundamento, alega quem tem experiência no terreno.
Mariana Perez Duque, médica de saúde pública, revela que a qualidade dos produtos, a zona geográfica bem como a logística, são fatores que podem condicionar a entrega às populações.
"A roupa pode-se rasgar por estar muito usada ou nomeadamente estar mais suja, não ter sido lavada e, portanto, naturalmente, quer-se evitar ao máximo, sobretudo quando a situação já é de emergência", explica.
A médica que já trabalhou na coordenação de emergências humanitárias, sublinha que estas situações de catástrofe são muito difíceis quer pelo transporte, quer "por condições geográficas, ou por condições climatéricas".
Se os produtos não chegam em condições apropriadas, acabam por não servir às populações que deles precisam, refere Mariana Perez Duque: "Não queremos que estejam a ser no fundo incluídos nesta cadeia, que já é difícil e complexa de manter", conclui.