Eutanásia. “Sociedade falha sempre que cai na tentação de oferecer a morte”
15-12-2022 - 07:18
 • Liliana Carona

D. Manuel Felício não esconde a preocupação perante a aprovação da despenalização da morte medicamente assistida. O prelado apela aos profissionais de saúde que rejeitem as “possibilidades abertas”.

“Natal, a beleza da vida num rosto de uma criança”, é o mote da mensagem de Natal do bispo da Diocese da Guarda em que D. Manuel Felício assume estar muito preocupado com a recente aprovação da despenalização da morte medicamente assistida.

“Na parte final da vida à medida que as forças diminuem e as fragilidades aumentam, até chegar a uma dependência quase total, cada pessoa para continuar com o gosto de viver, precisa de cuidados redobrados, da família, e da sociedade em geral, a começar pelos serviços de saúde, e quando isso não acontece, a sociedade falha sempre que cai na tentação de oferecer a morte para as dores e dificuldades das pessoas”, observa D. Manuel Felício.

O prelado entende que a recente aprovação parlamentar da lei, que permite a eutanásia e o suicídio medicamente assistido, expressa “um dos sintomas da falência do sistema”.

“Oferecer a morte nunca pode ser solução para qualquer problema humano”, insiste.

Apela, por isso, aos profissionais de saúde que rejeitem as portas agora abertas. “É legítimo o empenho de todas as pessoas de boa vontade, a começar pelos profissionais de saúde para rejeitar as possibilidades abertas pela legalização da eutanásia e do suicídio medicamente assistido, isto porque a vida humana é sempre um dom precioso, em todas as suas fases, e nunca deve ser intencionalmente provocada e quando sabemos que as carências do nosso SNS são muitas, o risco passa a ser o recurso à eutanásia, como solução mais rápida e menos onerosa”, alerta.

Segundo D. Manuel Felício, “já temos legislação sobre o testamento vital que é suficiente para enquadrar as determinações do próprio sobre o final da vida e tudo isto se faz em nome da liberdade do individuo, que em muitos casos, não tem condições nem meios para ser devidamente exercida, por exemplo, não pode aceder aos cuidados paliativos que em situações terminais, pode tirar as dores ou diminuí-las”.

Nesta mensagem desafia ainda a contemplar para além dos enfeites, contemplar a vida humana.

“Aquele menino, grande sinal da beleza e encanto de toda a vida humana. Vemos a fragilidade e dependência de qualquer vida quando começa. Toda a vida é assim, nasce pequenina e frágil, começando por estar dependente, em tudo”, conclui o prelado diocesano, acrescentando: “Desejo que este Natal nos ajude a contemplar a beleza e o encanto da vida, mesmo sabendo das suas limitações”.