Na última década, o número de católicos em Portugal diminuiu 8,1%, passando de 88,3%, em 2011, para 80,2%, em 2021. Os dados foram revelados esta quarta-feira nos Censos 2021, que indicam também que há mais 6,6% de pessoas sem religião. Importa considerar que a pergunta relativa à religião, nos Censos 2021, é de cariz facultativo, mas obteve uma taxa de resposta de 97%.
De acordo com o estudo, o maior e mais abrangente sobre a população em Portugal, a percentagem de cidadãos que afirma ser protestante/evangélica sofreu um aumento de 1,2% (de 0,9% para 2,1%). Os ortodoxos mantiveram-se nos 0,7%, enquanto o grupo das pessoas com outra religião passou de 2,6% para 2,9%, ao longo de uma década.
Ao todo, segundo os Censos de 2021, budistas, hindus, judeus e muçulmanos somam 1,1% da população, com os muçulmanos em maior número neste grupo (0,4%). Além destes, há mais 24.366 pessoas (0,3%) que professam outra religião não cristã. Pela primeira vez na história deste inquérito, as testemunhas de Jeová foram contabilizadas. Representam 0,7 % do total.
Olhando para os dados agora divulgados, Alfredo Teixeira, professor e investigador da Universidade Católica, constata que “a sociedade portuguesa, que viveu historicamente a partir de uma forte identificação cultural com as instituições católicas, está a fazer um percurso de pluralização”.
Uma “erosão normal” do número de católicos
Ainda que a religião católica continue a abranger atualmente mais de 80% da população, os dados recolhidos, nas últimas edições dos Censos, têm vindo a mostrar que o número de fiéis tem vindo a diminuir.
Em 1991, os católicos representavam 95% da população, e em 2011 chegavam aos 93%. São agora pouco mais de 80%. “Uma erosão”, que Alfredo Teixeira, considera “normal”.
“Nenhuma sociedade moderna é uma só coisa no que quer que seja. As condições sociais que antes promoveram uma espécie de unanimidade religiosa essas condições sociais não subsistem e, portanto, naturalmente a sociedade portuguesa vai tornar-se cada vez mais plural do ponto de vista das formas de identificação religiosa e isso afetará sempre o grupo dominante.”
Alfredo Teixeira destaca, ainda, o aumento do número de pessoas sem ligação a qualquer credo. “Talvez de uma forma mais tardia, em todo o caso, as dinâmicas da modernidade europeia afetam a sociedade portuguesa e esse crescimento da população que não se vincula a qualquer religião é um dado muito significativo”, diz.
Sobre o aumento dos evangélicos entre a população crente, o investigador considera que “o mais interessante será verificar de uma forma longitudinal até que ponto este crescimento tenderá para uma certa estabilização ou se vai continuar dependente dos fluxos demográficos, em particular do Brasil, que em relação sobretudo às Igrejas evangélicas é determinante”.