A ReFood faz 10 anos em Portugal, uma década em que o principal objetivo é evitar desperdício alimentar, procurando comida que sobra e dar a quem precisa. A data é assinalada em pandemia, a mesma que virou do avesso o trabalho dos cerca de 7.500 voluntários em 60 núcleos de todo o país.
Os restaurantes eram parceiros nesta luta diária de evitar desperdícios. Fecharam os restaurantes, os voluntários tiveram de procurar alternativas.
“As equipas locais, nos seus núcleos, fizeram a articulação com instituições públicas - juntas e câmaras - e privados, como o Banco Alimentar e muitas outras instituições, para assegurar imediatamente a alimentação dos nossos beneficiários, porque perdemos os restaurantes de um dia para o outro”, explica Hunter Halder, fundador da Refood.
E se no início esta dificuldade foi um obstáculo, rápido se tornou uma oportunidade. Recorreram também “a supermercados, a refeitórios”, mas “também na agricultura e na logística”.
“Há fuga de comida em toda a cadeia alimentar e agora temos muito mais ligações ao longo da cadeia alimentar e isso é algo altamente saudável e uma grande oportunidade que aproveitamos", acrescenta.
A reinveção da ReFood não passou apenas pelos locais de recolha de alimentos. Tiveram de mudar também a organização. “Em vez de um ou dois turnos com 10,15 pessoas por noite, agora são fragmentados em quatro ou cinco equipas de recolha com uma ou duas pessoas e três ou quatro turnos com três ou quatro pessoas”, explica.
Do outro lado, do lado de quem beneficia da ação da ReFood, também houve mudanças. “Antes da pandemia eram sete mil, mas houve uma grande migração de muitos beneficiários para outras instituições com outros apoios, quando perdemos todos os restaurantes”, diz Hader. “Quando reconstruímos, reconstruímos em grande parte com novos beneficiários”, adianta.
Nesta entrevista, Hunter diz que esta crise faz lembrar a de há 10 anos, com muitas pessoas a ficar de mãos vazias um dia para o outro. O fundador da ReFood admite que “esta onda de desemprego e de falta de rendimentos pode, de facto, continuar a crescer”, mas acredita que a resposta será melhor. “A sociedade, a meu ver, está a acordar e está a mudar. Eu prevejo muito mais participação em termos de parcerias, de voluntariado, vamos continuar a preencher esta lacuna”, diz, confiante.
Hunter Halder conta que, no último ano, a ReFood cresceu e abriram nove novos núcleos, por exemplo em Albufeira, Tavira, Portimão, Lagos, Viseu, Ermesinde.
Abriram também o primeiro núcleo em Madrid e acredita que as ferramentas digitais que agora todos usam vão ajudar à internacionalização.
Respostas Sociais à Pandemia é uma rubrica da Renascença com apoio da Câmara Municipal de Gaia que surge no seguimento da Conferência "Pandemia: Respostas à Crise" onde se debateu em maio de 2021 o papel das Instituições Sociais e do Poder Local.