O estado-maior do PS, o antigo e o actual, marcou presença na homenagem a Jorge Sampaio no dia em que faz 80 anos, com o ex-Presidente da República a confessar que não costuma estar neste tipo de situações “sem chorar um pouco”, mas a verdade é que se aguentou e ainda falou de raspão sobre os debates da pré-campanha para as legislativas, que diz estar “a adorar” e onde “se discutiram coisas fundamentais”.
O curto discurso teve como cenário o Largo Rato, sede do partido que liderou e onde Jorge Sampaio diz que sente que não precisa “de justificar nada”, onde lhe “perdoam as faltas”, num partido em que há essa “capacidade, que não se deve em caso algum alienar de ser uma entidade plural, onde o espaço ideológico é vasto, a construção tem de ser permanente e onde o espírito está aberto para aquilo que deve ser a discussão viva, a discordância, mas que não é obviamente a conspiração”.
Declarações que parecem um ajuste de contas com o passado e um arrumar de gavetas políticas aos 80 anos, após as divergências profundas que marcaram o PS no início dos anos 90 do século passado, divisões precisamente entre Jorge Sampaio e António Guterres na disputa pela liderança do partido.
De resto, Guterres enviou uma mensagem “de solidariedade” a Sampaio para ser lida nesta homenagem em que, curto e grosso, o actual secretário-geral das Nações Unidas revela que se junta “a esta ultra-merecida homenagem”.
O ex-Presidente da República revelou estar a par das discussões ideológicas do momento, confessando que acha “divertidíssimo” ouvir que “fulano é aquilo, fulano é aqueloutro, mas ninguém nunca discutiu isso, ninguém andou a medir” e que “agora andam todos a medir, são todos sociais-democratas, isso não se mede assim”, naquilo que pode ser visto como uma referência às recentes declarações de Catarina Martins sobre a social-democracia do Bloco de Esquerda.
Sampaio diz que a social-democracia dos partidos “mede-se com programas, sugestões, propostas e abrir aquelas entidades indispensáveis à construção da democracia que são precisamente os partidos”. E rematou depois que aqui se ficava “quanto ao momento político”.
Antes, falou o actual secretário-geral socialista, com António Costa a falar de Sampaio como “um homem intranquilo” e capaz de “fazer ruturas” e a lembrar os tempos de Sampaio à frente do partido, enquanto presidente da Câmara de Lisboa e Presidente da República.
O líder do PS só não se referiu ao período que marcou o mandato presidencial de Jorge Sampaio, ou seja, a decisão de não convocar eleições legislativas antecipadas em 2004 dando posse a Santana Lopes como primeiro-ministro criando uma rutura com o então líder do PS Ferro Rodrigues provocando mesmo a sua demissão como secretário-geral do partido.
Precisamente, o agora presidente da Assembleia da República estava na plateia, assim como vários ex-ministros de Guterres - casos de João Cravinho ou Vera Jardim - e atuais membros do Governo como os ministros Matos Fernandes, Pedro Nuno Santos, Francisca Van Dunem ou Mariana Vieira da Silva.