Já se sabe o nome da operação que levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa. Segundo a SIC, chama-se "Influencer". Esta quarta-feira conheceram-se mais dados do caso que já resultou em sete arguidos.
A operação do MP, com o apoio da Autoridade Tributária e da PSP, assentou em pelo menos 42 buscas em diversos locais e levou às detenções de Lacerda Machado, Vítor Escária, Nuno Mascarenhas, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, tendo sido constituídos arguidos João Galamba e Nuno Lacasta. Os cinco detidos foram presentes a juiz esta tarde para primeiro interrogatório judicial.
Segundo a estação de televisão SIC, foram apreendidos 75,8 mil euros em numerário no gabinete de Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro, António Costa.
Esta quarta-feira, o "Observador" refere que António Costa está envolvido em mais de 20 escutas telefónicas, que constam nos autos da operação.
As escutas são um dos principais meios de prova que fazem parte da certidão enviada pelo DCIAP ao Ministério Público e foram validadas por dois presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Segundo o jornal online, as escutas registaram-se entre novembro de 2020 e este ano e incidiram sobre Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado e João Galamba.
Ao "Observador", António Costa diz desconhecer o conteúdo das escutas e negou suspeitar que qualquer membro do Governo estivesse sob escuta.
Já o jornal "Público" refere que João Galamba é suspeito de ter apresentado ao Conselho de Ministros diplomas elaborados por advogados da empresa Start Campus. O ministro das Infraestruturas é um dos arguidos no caso do lítio, hidrogénio e dados que levaram à demissão do primeiro-ministro, António Costa.
O Ministério Público suspeita que Galamba terá apresentado documentos que favoreciam o projeto da empresa, nomeadamente a criação de um data center em Sines, enquanto era secretário de Estado da Energia e ministro das Infraestruturas, indica o diário.
Lacerda Machado usou amizade com Costa
O advogado e consultor Diogo Lacerda Machado terá usado a sua amizade com o primeiro-ministro, António Costa, para influenciar decisões do Governo e de outras entidades relativamente a projetos da sociedade Start Campus, segundo o Ministério Público (MP).
Segundo documentos a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira, além da amizade com o primeiro-ministro - que apresentou na terça-feira a demissão, após se saber que era alvo de inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça, ligado a este caso dos negócios do lítio, hidrogénio verde e um ‘data center’ – Lacerda Machado tinha ainda uma relação de proximidade com Vítor Escária, através de quem terá alegadamente facilitado o acesso dos administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, a membros do Governo.
Lacerda Machado - que foi detido na sequência da operação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal - passou a trabalhar desde o final de 2020 como consultor da Pionneer Point Partners e depois da Start Campus, auferindo cerca de 6.500 euros mensais pelo menos desde 2022. E terá sido pela sua conhecida relação de grande proximidade com o primeiro-ministro que o consultor poderia influenciar a imagem dos diferentes intervenientes junto de António Costa.
De acordo com o MP, Vítor Escária terá aceitado os pedidos de Lacerda Machado para intervir junto do Governo e de outras entidades nas questões que envolviam a sociedade de Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, que passaram a ter um acesso direto e regular a João Galamba.
Estes contactos foram materializados em reuniões formais, em almoços e jantares privados – que foram por duas vezes pagos ao ministro, em aparente violação do Código de Conduta do Governo - e ainda em conversas via Whatsapp.
Matos Fernandes também é suspeito
O ex-ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes é suspeito de corrupção passiva e prevaricação no caso do lítio e hidrogénio, com o Ministério Público (MP) a apontar suspeitas à sua atuação relativamente ao consórcio H2 Sines.
Segundo a indiciação do Ministério Público (MP), a que a Lusa teve acesso, Matos Fernandes, que não foi constituído arguido, terá no ano 2020 - em conjunto com o ministro das Infraestruturas e então secretário de Estado da Energia, João Galamba - imposto ao Resilient Group a integração das empresas REN, EDP e Galp no seu projeto de hidrogénio verde designado Green Flamingo.
Em julho desse ano, João Galamba, que já é arguido no processo, acaba por afastar o Resilient Group, sob o argumento de que se identificaria com o consórcio H2 Sines, assente na REN, EDP e Galp. A estas empresas juntaram-se depois a empresa portuguesa Martifer e a dinamarquesa Vestas, sendo que o MP considera indiciado que Matos Fernandes colaborou após deixar o Governo com a Copenhagen Infrastructures Partner, na qual a Vestas investiu.
Os procuradores indicaram ainda que o ex-governante foi também entretanto contratado como consultor pela Abreu Advogados, escritório que presta assessoria jurídica à Copenhagen, e que manteve contactos considerados suspeitos com o chairman da Martifer, Carlos Martins.
O nome de Matos Fernandes surge associado também a suspeitas na concessão da exploração de lítio na mina do Barroso, no concelho de Boticas, à empresa Savannah. De acordo com os procuradores, o ex-ministro -- em ação concertada com João Galamba e Rui Oliveira Neves, então diretor da Galp (e um dos cinco detidos no âmbito desta investigação) -- terá imposto de forma indevida a entrada da petrolífera na participação da Savannah Lithium.