O colaborador do Football Leaks Rui Pinto considerou esta quinta-feira que a sua colaboração como testemunha com autoridades europeias, que permitiu ao Eurojust investigar crimes financeiros, é propositadamente ignorada no processo em que é arguido em Portugal.
Rui Pinto, que está em prisão preventiva desde março, escreveu na sua conta na rede social Twitter que, "no dia 19 de fevereiro, teve lugar, na sede do Eurojust, uma conferência de imprensa com a presença dos procuradores franceses Jean Yves Lourgouilloux e Eric Russo, e de representantes de vários estados membros, incluindo Portugal", e que, "nessa ocasião, foi anunciada a abertura de um processo Eurojust que visa investigar, entre outros, os crimes de branqueamento de capitais, fraude fiscal e associação criminosa".
"Foi ainda explicitamente referido pelos procuradores franceses que apenas foi possível iniciar esse processo devido à minha colaboração como testemunha junto do Parquet National Financier [instituição judiciária francesa], e da entrega de 12 milhões de documentos. Ainda assim, esse facto foi deliberadamente ocultado do processo em que sou investigado em Portugal".
Segundo Rui Pinto, "o procurador José Eduardo Guerra, adjunto do membro nacional de Portugal no Eurojust, limitou-se a confirmar a existência de um processo com número de identificação 50566, registado por França no Eurojust, para obter o auxílio de diversos Estados-membros, e referiu que 'da documentação e informação que nos foi disponibilizada não resultam elementos que nos permitam confirmar ou infirmar a colaboração com autoridades de outros Estados-membros que alega ter prestado'".
Rui Pinto acrescentou que "pese embora ter sido oficiado, no passado mês de julho, para esclarecer a que diz respeito esse processo e qual o envolvimento do gabinete de Portugal no mesmo, não veio esclarecer. É para dizer, ou o senhor Guerra é uma pessoa muito desatenta, ou há aqui marosca à portuguesa".
Em 2 de abril, a então eurodeputada portuguesa Ana Gomes revelou em Bruxelas que o presidente do Eurojust, Ladislav Hamran, confirmou nessa data que Rui Pinto estava a cooperar com as autoridades de três países, França, Bélgica e Holanda.
Segundo a ex-eurodeputada, o presidente do Eurojust avançou que "Rui Pinto estava efetivamente a colaborar como 'whistleblower', como denunciante, com autoridades de vários países europeus, mas que o caso que tinha dado origem ao pedido de extradição por Portugal era um caso diferente daqueles em que ele estava a colaborar com outras autoridades".
Em prisão preventiva desde 22 de março, Rui Pinto foi detido na Hungria e entregue às autoridades portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, indiciado pela prática de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada.
Na base do mandado estão acessos aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.