Apesar da chuva que tem caído com grande intensidade em algumas regiões do país ainda estamos longe de atingir a capacidade total nas barragens nacionais.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), as reservas atingiram ontem os 65%, mais 3,5% do que na semana passada.
Os dados relativos à maioria das albufeiras do Alentejo e Algarve, que são as que mais preocupam devido aos baixos níveis de armazenamento, mostram que há três albufeiras no vermelho com armazenamento abaixo dos 10% são elas as de Campilhas (3%), Monte da Rocha (8%) e Bravura (10%).
Comparativamente ao boletim anterior (de 5 de dezembro de 2022) verificou-se o aumento do volume armazenado em oito bacias hidrográficas e a diminuição em sete.
Das albufeiras monitorizadas, 30% apresenta disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 27% têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Segundo os dados de monitorização diária disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, os armazenamentos na primeira quinzena de dezembro de 2022, por bacia hidrográfica, apresentam-se inferiores às médias de armazenamento do mês de dezembro, dos últimos 30 anos, exceto para as bacias Lima, Ave e Douro.
Chuva melhora níveis de barragens no Algarve, mas mais no sotavento
As últimas chuvas permitiram melhorar os níveis de água das principais barragens do Algarve, mas o aumento foi mais sentido no sotavento (este) do que no barlavento (oeste) da região.
“O impacto [das chuvas] foi bastante assimétrico no Algarve, ao nível do sotavento, nas duas grandes barragens - Beliche e Odeleite -, tivemos aportes substantivos”, afirmou à Lusa o diretor regional de Agricultura, Pedro Monteiro, estimando uma “variação positiva nas reservas” destas duas albufeiras, “desde dia 4 até hoje, à volta de 15%”.
No entanto, no barlavento, a chuva que caiu “foi menor” e “a queda pluviométrica inferior”, situando-se a média da última semana em metade da registada no sotavento algarvio.
Pedro Monteiro salientou que a sub-região do Algarve onde mais chuva caiu foi a do Algarve Central, onde não há barragens, tendo caído uma média de 230 milímetros desde o dia 4, seguida do sotavento, com cerca de 200 milímetros, e do barlavento, com uma média pouco acima de 100 milímetros.
“[A pluviosidade mais baixa no barlavento] É uma coisa que, de há dois anos para cá, sensivelmente, se está a observar, ao contrário do que era hábito. Historicamente, chovia mais no barlavento do que no sotavento”, constatou o diretor regional.
Pedro Monteiro indicou que, com menor queda de chuva, o barlavento tem mais dificuldades para recarregar de água barragens ou aquíferos, que são as principais fontes de alimentação de água da agricultura no Algarve, “com 30 e 70%”, respetivamente.
“E isso explica que a barragem da Bravura [no barlavento] continue com valores de armazenamento total inferiores a 15% e seja a barragem que tem menos água no Algarve”, justificou, acrescentando que as barragens de Odelouca e Arade têm valores também inferiores a 40%.
Os dados sobre o armazenamento de água disponibilizados pela empresa Águas do Algarve, que se reportam às barragens de Odelouca, no barlavento, e Odeleite e Beliche, no sotavento, mostram que, na semana de 5 a 12 de dezembro, a barragem de Odelouca subiu o volume total de 31,11% para 32,56%, enquanto o volume útil passou de 15,56% para 17,34%.
As chuvas fortes da última semana tiveram um maior impacto nos níveis de água acumulados das albufeiras do sotavento, com o volume total da barragem de Odeleite a passar de 29,54% para 49,60% e o volume útil a subir de 15,82% para 39,78%, ainda segundo a Águas do Algarve.
A precipitação da última semana também fez com que a outra barragem do sotavento, a do Beliche, melhorasse os seus níveis no volume total (de 22,93% para 40,85%) e no útil (de 13,75% para 33,80%), segundo informação da empresa algarvia divulgada na Internet.
Importância da chuva para as culturas
Pedro Monteiro destacou a importância das chuvas registadas nos últimos dias para as culturas, quer intensivas quer de sequeiro, mas também para as pastagens de animais ou para a apicultura, ao permitirem que as abelhas disponham de vegetação para produzir mel e fazerem a polinização.
Por outro lado, constituem “um alívio para os custos e o bolso dos empresários agrícolas”, que “durante, pelo menos um mês, não vão ter de regar” e gastar dinheiro em energia para o fazer, destacou.
O diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve alertou, no entanto, que, apesar deste aumento no armazenamento de água, o Algarve “ainda não está nem de longe nem de perto numa situação desejável, porque partiu de uma situação que, em termos de níveis de reservas, era muito baixo”.
“Ainda há um mês e meio tínhamos valores inferiores a 20% e tem de chover muito para que o nível das barragens e dos aquíferos atinja um nível de segurança, que nos deixe mais descansados”, acrescentou, advertindo que “é necessário continuar a poupar água, a combater as perdas” e a usar este bem de “forma muito criteriosa”.