Não há locais seguros na Faixa de Gaza para prestar cuidados de saúde e há grávidas que depois de fazerem uma cesariana são obrigadas a abandonar o hospital num prazo máximo de seis horas após o parto para libertar espaço para outras mulheres. A denúncia é feita por João Antunes, diretor-geral da Médicos sem Fronteiras Portugal, ouvido pela Renascença.
Apesar da insegurança e da situação cada vez mais precária, a Organização Médicos Sem Fronteiras continua na Faixa de Gaza, onde tem cerca de três centenas de profissionais, sobretudo palestinianos, e uma dezena de estrangeiros.
Entrevistado pela Renascença, o diretor-geral da Médicos sem Fronteiras Portugal fala numa situação crítica. João Antunes diz que o apoio é dado num espaço cada vez mais limitado e onde falta praticamente tudo. “Estamos numa situação em que o espaço que temos para atuar, para prestar estes cuidados de emergência e de saúde, é mais restrito. Estamos a falar só numa pequena região, no sul da Faixa de Gaza, circunscrita à zona de Rafah onde a MSF presta apoio humanitário a três hospitais e um centro de saúde e dentro desses hospitais, trabalhamos com enormes dificuldades a nível de abastecimentos médicos, combustíveis etc., etc.”
João Antunes relata que as constantes ordens de evacuação, e os ataques a instalações de saúde, têm obrigado organizações como a Médicos sem Fronteiras a retirar de hospitais deixando pacientes para trás.
No sul da Faixa de Gaza, há agora cinco vezes mais pessoas e menos unidades de saúde para tratar feridos e doentes. “Quando houve o pedido de evacuação do exército israelita para as populações do Norte irem para a região Sul, num curto espaço de tempo a população quintuplicou. E sem o apoio das estruturas hospitalares do Norte e do Centro as unidades que funcionam ficaram muito mais pressionadas já que, obviamente, há muitas mais pessoas a precisarem destes cuidados de saúde.”
A falta de capacidade hospitalar está a privar os pacientes de tratamento e condições higiénicas adequadas, explica João Antunes. “Podemos imaginar, pelo volume de bombardeamentos, a complicação dos pacientes e dos feridos que estamos a receber no hospital. Não se trata só de assegurar capacidade cirúrgica, que obviamente é menor, mas quando recebemos 20/30 pacientes em estado muito grave, o perigo de infeções transforma o ato cirúrgico num grande desafio. E tudo isto, acrescenta, num sistema em que há cada vez menos hospitais e onde os que funcionam estão sobrecarregados, com "abastecimentos de material médico feito a conta-gotas”.
O diretor da MSF Portugal dá também o exemplo das grávidas que fazem cesarianas e são obrigadas a abandonar o hospital num prazo máximo de seis horas após o parto para libertar espaço para outras mulheres.